segunda-feira, 29 de julho de 2013

ENTRE ASPAS - Diversões infantis na época de Agatha Christie



Senhoras e Senhores: a diversão chegou!



Agatha Christie



Para fechar o período de férias, eu trago uma passagem da Autobiografia na qual Agatha Christie narra um trecho de suas memórias da infância: sob o olhar inocente de uma criança fascinada, ela descreve uma feira e suas atrações encantadoras para os pequenos de qualquer época. Serve também como uma evidência histórica, já que é uma interessante descrição do mundo circense naqueles tempos.





 (Segunda parte: Meninas e meninos, venham brincar)
A minha maior alegria e pela qual eu ansiava era a feira. O carrossel, onde eu cavalgava cavalos com crinas, a girar, a girar, a girar, e uma espécie de montanha-russa que subia e descia ladeiras. Duas máquinas tocavam música aos berros, e, quando nos aproximávamos do Carrossel ou dos carrinhos da montanha-russa, e a melodia combinada resultava em uma horrível cacofonia.
 

carrossel
Depois, havia ainda todas as exibições. A Mulher Gorda; Madame Arensky, que predizia o futuro; a Aranha Humana, horrível só de olhar, o Tiro ao Alvo,onde Madge e Monty gastavam sempre muito tempo e dinheiro. E barracas em que os alvos eram cocos, e Monty geralmente ganhava grandes quantidades deles, levando-os para casa para mim. Eu adorava cocos!
 
Fico imaginando como eram ingênuos e divertidos aqueles tempos...



 

sábado, 27 de julho de 2013

Curiosidades - A História do Verdadeiro Expresso do Oriente


Seguindo os trilhos do Orient Express




Eu simplesmente adoro trens! Ao recordar de minhas viagens de trem, imediatamente penso em Assassinato no Expresso do Oriente (1934)a obra de Agatha Christie na qual Poirot viaja no glamoroso trem e se envolve em mais uma estória de crime e mistério.

Resolvi então pesquisar um pouco mais sobre este famoso trem que emprestou seu nome ao não menos famoso livro da Rainha do Crime. Segue então um resumo da:



A HISTÓRIA do ORIENT EXPRESS
 



panfleto informativo das viagens no Orient Express



Companhia Francesa, Dono Austríaco 


Tudo começou em 1883 com a inauguração do luxuoso Express D’Orient, trem da companhia francesa Compagnie Internationale des Wagon-Lits (Companhia Internacional de Vagões-Dormitório), pertencente ao austríaco Georges Nagelmackers, que fazia o trajeto entre Paris e Constantinopla (hoje Istambul), partindo da estação Gare de l'Est, em Paris.








Belíssimas Cidades na Rota
 

No início, o trem partia duas vezes por semana e os passageiros tinham que fazer algumas escalas. Mas, a partir de 1889, três vezes por semana, bastava embarcar em Paris para seguir com destino a Istambul.

E por quantos lugares maravilhosos o trem passava conforme a rota! Inclua-se nesta lista Viena, Munique, Budapeste, Estrasburgo, Bucareste, Giurgiu (Romênia), Nis (Sérvia), Belgrado, Sofia. O Express D’Orient, cujo nome foi depois alterado para Orient Express, viveu dias de glória nos anos anteriores a 1ª Guerra Mundial, transportando com luxo e pompa membros da nobreza e pessoas da alta sociedade em seus vagões glamorosos.

Todavia, seus serviços foram interrompidos em 1914.



Cena do filme Assassinato no Expresso do Oriente ( 1974)


Onde exatamente se passou o filme: 
 
Assassinato no Expresso do Oriente?

A partir da possibilidade de ligação entre a Suíça e a Itália em 1921 através do Túnel Simplon, que cortava os Alpes, pôde ser criada uma rota alternativa para Istambul que evitasse o território alemão. Com isso, foi inaugurado o Simplon Orient Express, que partia de Paris e se juntava à linha original em Belgrado. Foi justamente no Simplon Orient Express que a estória de Assassinato no Expresso do Oriente (1934) se passou. Veja abaixo o mapa publicado pela Wagons Lit Company com as rotas originais do Simplon Orient Express e do Taurus Express para as rotas da temporada de 1930-1931:





Glória e Fama


O ápice ocorreu na década de 1930, quando três serviços distintos compunham as viagens do Expresso do Oriente: os já existentes Orient Express e Simplon Orient Express, acrescidos agora do Arlberg Orient Express, com uma rota que incluía Innsbruck, Zurique e Atenas. Todos os três comboios eram operados pela Compagnie Internationale des Wagons-Lits, através de uma complexas logística de composição e alteração de vagões a cada interseção e suas possibilidade de múltiplas rotas.

Foi neste período que o Orient Express ganhou fama e glória, com as três rotas oferecendo conforto total e serviços exclusivos aos seus passageiros refinados.




interior do Orient Express

 
 
Fatos Históricos:
 
Adolf Hitler e o Orient Express
 

Além de várias obras de ficção (livros e filmes), o Orient Express serviu de palco para importantes acontecimentos na História. 

Por exemplo, o vagão nº 2419 foi usado pelos Aliados como local para que os alemães assinassem o armistício ao fim da 1ª Guerra Mundial. Anos depois, em 1940, Hitler usou este mesmo vagão para a rendição da França e em seguida mandou que fosse destruído.

 
interior do Orient Express

A última viagem
 
Após a 2ª Guerra Mundial, muito da grandiosidade do Orient Express se perdeu. Com a Europa redesenhada em novas fronteiras, a gradual desativação das três linhas representou um triste fim anunciado.
A última viagem do verdadeiro Oriente Express ocorreu em 12 de dezembro de 2009, na linha do Euro Night nº 469, entre Strasburgo e Viena, em uma viagem cotidiana e simplória, feita por passageiros que provavelmente sequer imaginavam o passado glamoroso que aquele trem um dia possuiu.
Esta última viagem marcou o fim triste de uma era gloriosa que perdurou por 126 anos.






Um Novo Trem: Uma Nova Chance


Mas nem tudo está perdido.

Hoje, pode-se ter um gostinho do que teria sido aquela experiência. Desde 1982, o Venice-Simplon Orient Express (VSOE) - que licencia seu nome da francesa SNCF, donos verdadeiros da marca - opera entre Londres e Veneza, com vagões reformados da década de 1920 e 1930, porém, por um alto preço.

Há também outra linha, que liga Zurique a Istambul, de propriedade de empresários russos, com alguns vagões de luxo e passagens igualmente caríssimas. Faça sua escolha!




interior do Orient Express

 

Para ver cenas filmadas dentro do Orient Express:


Para viajar no novo Orient Express:


sexta-feira, 26 de julho de 2013

MISS MARPLE: CHÁ & BOLINHOS - Hum... até que ia cair muito bem nesse frio!


Chá, sanduíches e bolinhos: 
estão servidos?



Humm, que friozinho tem feito nestes últimos dias, não é mesmo? É em ocasiões como essa que dá aquela vontade de tomar uma bebida bem quentinha, acompanhada de um pãozinho crocante com uma camada farta de nossa geleia predileta, ou daquela fatia de bolo com calda de chocolate, escorrendo lentamente pelas bordas... Humm!
Eu estava aqui pensando no que escreveria para esta publicação de Chá e bolinhos com Miss Marple, mas a verdade é que eu só conseguia pensar que adoraria ser convidada pela própria Miss Marple para um de seus chás da tarde tipicamente ingleses, preparados meticulosamente, na tranquila St. Mary Mead. Bem... e por que não? Isto é, que tal você preparar seu próprio chá da tarde vitoriano à moda de Miss Marple!
Pesquisando por aí em sites de culinária, me deparei com um muito simpático (link abaixo) que fornece o passo a passo para um típico chá da tarde vitoriano, bem há época das casas de campo inglesas. O mais legal é que eles chamam estas dicas de Receita de Miss Marple. Traduzi as dicas do site e acrescentei mais umas coisinhas aqui e uns detalhezinhos ali que andei aprendendo com querida detetive em seus livros. Vamos lá:






* Cubra a mesa com uma toalha branca de renda ou de linho, e não se esqueça dos guardanapos do mesmo tecido, combinando. Arrume delicadamente os guardanapos em anéis prateados ou dourados, desde que combinem com o serviço de chá.


* Escolha um vaso branco, arrume nele flores miúdas entrelaçando-as com algumas outras maiores e alegremente coloridas, e posicione-o em uma das extremidades da mesa.


* Escolha um serviço de chá de porcelana, bem delicado, com motivos florais em tons pastel e arabescos em finas linhas douradas ou prateadas.







* Certifique-se de que os talheres estejam muito bem polidos e brilhantes, e, é claro, posicione-os sobre a mesa ao estilo do serviço francês.



* Prepare uma pequena jarra de leite quente e lembre-se de retirar a nata.

* Coloque também sobre a mesa um pote com torrões de açúcar e um pratinho com finas fatias de limão.





* Nem pense em chá em saquinhos! Use folhas de chá naturais e providencie pequenos coadores individuais. Lembre-se de posicionar um apoio para o coador ao lado de cada xícara.

* Prepare as duas jarras do seu serviço de chá: a maior contendo o chá e a menor com água quente.

* Em potinhos individuais, despeje um pouco de mel, em outro, o creme de leite, a geleia e a manteiga, que deve ser cremosa e estar em temperatura ambiente.





* Em um carrinho de bolo de três andares, arrume os sanduiches na bandeja inferior, as rosquinhas de nozes e os cookies com gotas de chocolate na bandeja do meio, e uma seleção de bolinhos de frutas e bolinhos recheados com creme na bandeja de cima.

* Lembre-se de forrar antes cada bandeja com uma coberturas rendadas de papel de seda na cor branca, combinando com a toalha.

* Intercale sanduiches de pão branco com os de pão preto. Corte-os em pequenos triângulos e lembre-se de retirar a casca.

* O recheio ideal para os sanduiches é uma pasta caseira feita a base de cream cheese, salmão e finíssimas fatias de pepino. Outra opção de recheio é feita com cream cheese, atum defumado e amêndoas picadas.  




* Enfeite a bandeja de sanduiches com pequenos raminhos de mostarda e de agrião, a bandeja com os cookies e as rosquinhas com pequenos morangos, e salpique as bandejas de bolinhos com pedacinhos de damascos cristalizado.


* Você também pode servir um bolo ou uma torta, mas em geral esta é uma opção para uma ocasião especial, e o bolo ou a torta deve ser partida por último. De qualquer forma, reserve um pote de creme e outro de geleia em um sabor que assente com o do bolo, para serem servidos juntos.






* Prepare também uma porção extra da mesma calda do bolo, para despejá-la sobre ele pouco antes de parti-lo. Se a ocasião for realmente comemorativa, uma boa sugestão é o Delicious Death, aquele famoso bolo especialmente criado para a celebração dos 120 anos de Agatha Christie. Não tem a receita? Ah, mas isso não é um problema para os leitores assíduos deste blog! Ela está traduzida na postagem Delicioso de Morrer!, no marcador Curiosidades.





Pronto! Agora é só se sentar à mesa em companhia de pessoas agradáveis - ou de um bom livro de Agatha Christie, que dá no mesmo - e se deliciar com este irresistível chá da tarde bem ao estilo tradicional inglês. Tenho certeza de que Miss Marple aprovaria. Bom apetite!


quarta-feira, 24 de julho de 2013

PERSONAGENS que também AMAMOS - Tommy e Tuppence: OPOSTOS QUE SE ATRAEM



CADÊNCIA  &  HISTAMINA




James Warvick e Francesca Annis como Tommy e Tuppence Baresford

Ele, um jovem de cabelos ruivos requintadamente penteados para trás. Seu rosto não é bonito, todavia, é agradável. É um rosto inclassificável, porém, sem qualquer equívoco, é o rosto de um cavalheiro e de um desportista.


Ela, uma mulher que não se pode afirmar ser exatamente bela. Porém, fazendo lembrar os traços de um pequeno duende, as linhas de seu queixo determinado e seus enormes olhos cinza, meio separados, denotam um certo charme feminino e muita personalidade.


Assim descreve Agatha Christie seus personagens Tommy Baresford e Prudence Cowley, mais conhecida como Tuppence, em O Inimigo Secreto (The Secret Adversary), o primeiro livro em que aparecem, em 1922. Se a beleza – ou a falta dela – é um traço em comum entre eles, o mesmo não se pode dizer de suas personalidades.



PRUDÊNCIA    &    IMPETUOSIDADE


James Warvick e Francesca Annis


Tommy precisa de mais tempo para raciocinar. Ele prefere pensar com calma antes de tomar uma decisão.
Tuppence é impetuosa, e se atira ousadamente nas coisas, sem se preocupar demais com a sensatez.
Tommy gosta de ter certeza dos fatos antes de agir.
Tuppence é impulsiva e rápida diante das situações.
Tommy é lento. Tuppence é impaciente.
FOCO  &  FOGO



James Warvick e Francesca Annis


Tommy é descrito por um de seus inimigos como não sendo muito esperto, mas difícil de ser enganado e desviado da verdade dos fatos.

Tuppence, quando tem uma pista, torna-se obstinada e é descrita como um cão terrier farejando um rastro.

Ele não tem muita imaginação, tampouco se pode dizer que é brilhante, mas também não se distrai com facilidade e nem perde sua linha de raciocínio.

Ela, sim é bastante inteligente, e orgulhosa também, e como sua intuição é seu forte, ela tende a arriscar mais, perseguindo confiantemente seu palpite.   

Ele tem os pés fincados no chão. Ela tem asas e a rapidez de uma chama incandescente. Ele é racional. Ela é intuitiva. Ele tende a sisudez decorrente da seriedade. Ela é carismática e se torna adorável.



Ah, o AMOR...



James Warvick e Francesca Annis


Com temperamentos tão opostos, diriam que eles tinham tudo para dar errado. Mas nada disso: Tommy e Tuppence foram feitos um para o outro! Suas personalidades se complementam mutuamente: o que falta em um, o outro tem de sobra, e vice-versa.

Como define o personagem Mr. Carter, o Chefe da Inteligência Britânica, um é cadência, o outro é histamina. Mais do que um simpático casal, que acabam se apaixonando e se unindo em matrimônio, Tommy e Tuppence Baresford formam uma verdadeira equipe. E uma bem divertida também.

Adoro!





segunda-feira, 22 de julho de 2013

Rápidos Fatos - Uma listagem indesejável


A lista de seletos da qual ninguém quer constar

Agatha Christie
aquarela de Fabrizio Casseta
O site denominado: NNDB – tracking the entire world (rastreando o mundo todo - link abaixo) apresenta uma interessante listagem de pessoas famosas que estão ou estiveram desaparecidas em algum momento de suas vidas. Advinha quem consta neste estranho grupo em 2º lugar? Nossa Rainha do Mistério, é claro!

Agatha Christie figura ao lado de outros conhecidos ilustres, como por exemplo, Amelia Earhart, a famosa aviadora norte-americana que desapareceu ao tentar cruzar o Atlântico em um pequeno avião em 1937. Por sorte, a Rainha do Crime foi encontrada sã e salva – fato que não aconteceu com outros membros da listagem.

Agatha Christie desapareceu estranhamente por 11 dias em 1926 (saiba mais sobre este intrigante mistério verdadeiro clicando no marcador Noticias & Novidades e leia a postagem completa sobre o desaparecimento, dividida em 4 partes). O que não sabemos – pelo menos eu não consegui identificar o motivo – é por que nossa querida autora consta em 2º lugar na lista. Bem, dê o seu palpite!

NNDB – tracking the entire world: http://www.nndb.com/lists/000/000069790/



sábado, 20 de julho de 2013

Agatha & História - O desaparecimento: a verdade sobre o que realmente aconteceu (4ª parte)


O Maior dos Mistérios: Por quê?


Nas últimas três postagens de Notícias & Novidades, falei sobre o estranho desaparecimento da própria Agatha Christie por 11 dias ocorrido em 1926 (1ª parte), sobre as teorias mais aceitas pela polícia e pela imprensa para os motivos (2ª parte), e sobre as dramatizações feitas pelo o cinema e a TV respeito (3ª parte).

O fato é que o mistério que envolve este peculiar desaparecimento não é aquele enigma tradicional resumido na pergunta – Quem é o culpado? – mas sim, um enigma ainda mias intrigante: Por quê?

Hoje, na 4ª e última parte, apresento a hipótese com a qual eu mesma me alinho para explicar o que se passou com Dame Agatha, ao simplesmente sair de casa em Berkshire sem avisar nada a ninguém em 3 de dezembro de 1926 e se hospedar em um hotel SPA em Harrogate. 




O Retrato Finalmente Terminado
 

Muitos já falaram e publicaram em todo o mundo suas ideias advogando em favor da mesma teoria: a da perda (parcial ou total) de memória resultante de um colapso nervoso. Porém, um bom trabalho a respeito é aquele apresentado pelo Dr. Andrew Norman (ex médico) em seu livro: The Finished Portrait (Tempus Editora, 2006. 1ª foto).

Antes de falar das conclusões do Dr. Norman, porém, só uma breve curiosidade: o título de seu livro – algo como: O Retrato Acabado – não foi pensado à toa. Trata-se de uma alusão explícita a outro livro publicado por Agatha Christie em 1934, sob o pseudônimo de Mary Westmacott, que se chama: Unfinished Portrait – ou: Retrato Inacabado (2ª foto). Ocorre que se acredita que esta obra de Agatha Christie, onde sua personagem principal também é uma escritora que passa por momentos traumáticos devido ao divórcio, traz na verdade uma explicação da própria autora para o que de fato lhe teria acontecido.
 


Amnésia Psicogênica


Com base em estudos médico-científicos combinados com um minucioso trabalho de pesquisa biográfica acerca dos acontecimentos na vida de Agatha Christie naquela época, o Dr. Andrew Norman defende em seu livro a hipótese de que a escritora estava sofrendo de uma patologia psicológica denominada amnésia psicogênica, também conhecida como estado de fuga. O Dr. Norman nos explica que episódios desta rara condição mental ocorrem em função do alto nível de stress provocado pelo sofrimento de um trauma ou algo que leve a pessoa a cair em depressão.


Segundo Norman, Agatha Christie vinha já há alguns dias apresentando indícios que favoreciam o desenvolvimento do estado de fuga, levando a pessoa a se comportar como se estivesse em um estado semelhante a um transe hipnótico. Sintomas como acessos de choro repentinos, dificuldade em reconhecer sua própria fotografia, esquecimento de seu próprio nome são apenas alguns exemplos do comportamento da escritora testemunhados naquela época.  O acúmulo de acontecimentos traumáticos – a doença e a morte de sua mãe, o abandono pelo marido durante este período, seguido de seu pedido de divórcio e da exposição ao seu desejo de lhe trocar por uma mulher bem mais jovem – teriam culminado em um colapso nervoso e no consequente estado de fuga de Agatha Christie.

O instante de amnésia que a escritora experimentou em seguida em função deste trauma psicológico explicaria seu ímpeto em largar tudo aquilo que a estava magoando terrivelmente para trás e rumar para um calmo e agradável hotel. Trata-se de uma questão básica e primitiva de sobrevivência – no caso, de sua própria saúde mental. Do mesmo modo, a adoção momentânea de uma nova personalidade, como ter se registrado no hotel SPA com o nome falso de Teresa Neele, se encaixa nos sintomas do processo de perda de memória pós-traumática.

Além disso, o Dr. Norman também acredita que Agatha Christie passou por uma fase de tendências suicidas. Quem já conheceu de perto alguém com depressão ou doença do pânico – patologias psicológicas sérias, porém, hoje em dia tão divulgados em nossa cultura, compreende perfeitamente esta suposição.
 

Agatha Christie


O Direito de Sofrer Longe
dos Olhos Alheios


O fato é que Agatha Christie conseguiu digerir todos esses reveses, superá-los e sobreviver. O que quer que tenha acontecido em seu coração, qualquer que tenha sido a profundidade de suas mágoas, ela, como uma mulher reservada, jamais saiu por aí desabafando-as aos quatro ventos. Tampouco jogou a culpa sobre ninguém: que se registre que as conclusões acerca da parcela de responsabilidade de seu então marido Archibald Christie sobre o acontecido são todas nossas. Como a verdadeira dama que era, Agatha Christie se retirou a fim de sofrer longe dos olhos alheios e depois de recuperada, retornou para, tempos depois, se transformar no ícone literário que é hoje.


Quem nunca o desejou,
que atire a 1ª pedra!

Agora, confesse: quantas vezes em nossas vidas, diante do estresse cotidiano – casa, filhos, trabalho, chefe, contas a pagar, etc. – não temos vontade de sumir, de desaparecer daqui e ir parar em um resort paradisíaco no Caribe, onde ninguém nos conheça? Quem nunca sentiu isso, nem que tenha sido por um breve momentinho, que atire então a primeira pedra!