quinta-feira, 4 de julho de 2013

Poirot: Bigodes & Bengala - Por que mesmo Poirot é belga?


Bélgica, Inglaterra,
Alemanha Nazista e Poirot:
qual é a conexão entre eles?


David Suchet como Poirot

Diante da pergunta acerca da nacionalidade belga de Poirot, todos respondem imediatamente: Por que Agatha Christie se inspirou em alguns refugiados belgas da Guerra, que moravam próximos a ela. Ok, ok. Podemos ler na Autobiografia o relato da própria escritora sobre o seu processo de criação de Poirot - que é interessantíssimo, por sinal (Veja o resumo deste relato aqui mesmo em Pelos Bigodes de Poirot!) Mas eu quis ir além disso: quis explorar um pouco mais o assunto da questão dos refugiados e os dados que temos sobre a trajetória do detetive. 



Poirot chama a atenção do
Serviço Secreto Britânico


Peça: The Mysteryous Affair at Styles, adaptada por David Hansen

Sabemos que Poirot deixou a Bélgica como um refugiado, no período da I Guerra Mundial, e se fixou na Inglaterra, embora tenha retornado a Bélgica algumas vezes depois. Em O Misterioso Caso de Styles  (The Misterious Affair at Styles), 1ª vez em que Poirot nos é apresentado, ficamos sabendo que o Capitão Hastings e Poirot eram velhos amigos porque Hastings diz que não o via há alguns anos. Mas, somente em Cai o Pano – Curtain, o último caso de Poirot, é que nos é informado que Hastings havia conhecido Poirot na Bélgica tempos antes do assassinato em Styles, e é também em Cai o Pano que tomamos conhecimento da data precisa de 16 de julho de 1916 como sendo a do mistério em Styles.
Porém, o serviço secreto britânico e sua polícia eram considerados muito competentes (para não falar na questão do orgulho patriótico inglês). Sendo assim, por que então creditar tantos louros a um estrangeiro? É simples: o sucesso de sua investigação em Styles teria chamado a atenção do serviço secreto britânico. Além disso, as extraordinárias habilidades de Poirot foram confidenciadas às autoridades britânicas por certos membros da realeza belga. A partir daí, Poirot foi convidado diversas vezes pelo governo britânico para resolver casos, como, por exemplo, a tentativa de sequestro do Primeiro Ministro.
Outras dúvidas, outras perguntas


David Suchet como Poirot
E por que exatamente sua nacionalidade seria belga - e não italiana, francesa, etc.? E mais ainda: se Poirot era assim tão bom, por que razão estaria sem trabalho e disponível para solucionar mistérios em terras anglo-saxônicas?

Para desvendar as respostas é preciso entender um pouco do que acontecia (no mundo real) naquela época na Inglaterra e na Europa como um todo. Ou seja, os fatos que podem nos levar a descobrir quais teriam sido as motivações de Agatha Christie para conceber Poirot como especificamente belga.
Bélgica  &  Inglaterra: um fato histórico


Invasão da Bélgica pela Alemanha nazista - 1ª Guerra Mundial

Ocorre que exatamente naquele período – entre 1916, data da estória em Styles, e 1920, data da publicação do livro – era considerado um ato de patriotismo na Inglaterra expressar simpatia pela Bélgica e pelo povo belga. Motivo: a Bélgica fora ocupada pela Alemanha nazista em 1º de agosto de 1914 (para mais detalhes, consulte: http://www.areamilitar.net/) e justamente esta ocupação foi usada pelo governo britânico como causus belli, ou seja, razão oficial para que a Inglaterra entrasse na I Guerra Mundial. Inclusive, a propaganda política de guerra na Inglaterra naquela época enfatizava a invasão nazista como O Estupro da Bélgica.

Agatha Christie consoante com
seu tempo

Em vista disso, a nacionalidade de Poirot como sendo belga atesta uma questão histórica da época em que Agatha Christie escrevia e o teria concebido. Além, é claro, de explicar aquela questão acima no mínimo intrigante: o fato de Poirot ser tão bom em seu ofício, mas se encontrar sem trabalho e disponível para solucionar mistérios na Inglaterra. Antenada com a realidade de seu tempo, suponho, assim, que nossa querida escritora imaginou ser capaz de conquistar a simpatia do público inglês a princípio, fazendo de seu detetive um cidadão belga. Mesmo embora seja ele bastante caricato, é também, todavia, um sujeito inteligentíssimo.



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