sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Poirot: Bigodes & Bengala - Mapa dos Crimes de Poirot


POR  ONDE  ANDOU  POIROT?

David Suchet como Hercule Poirot


Vejam só que link legal do HPC – Hercule Poirot Central (link permanente na listagem de sites deste blog): ele possui um mapa da Inglaterra com alguns dos locais onde Hercule Poirot resolveu algum caso ou onde ocorreu algum fato relevante ligado ao famoso detetive belga criado por Agatha Christie. Basta pousar o mouse sobre o ponto destacado no mapa para que se abra uma janela com o nome do local e os dados sobre o crime investigado.

Hum, bem, você tem dificuldades com o inglês? Não tem mais! Abaixo, eu traduzi as informações de todas as janelas do mapa do HPC.

Além disso, resolvi complementar o trabalho do HPC com imagens destes lugares por onde Poirot esteve, afinal a Inglaterra é tão bonita que achei uma pena a falta das fotos. Então, aproveite para usar sua imaginação e fazer uma viagem pelas belas paisagens inglesas e pelos lugares conhecidos e imaginados por nossa Rainha do Crime:  


NOS LIVROS! (Não nos Filmes)


mapa da Inglaterra


Mas, atenção: o HPC alerta para alguns fatos.

Primeiramente, Agatha Christie muitas vezes era vaga ao situar os locais onde as coisas aconteciam, até porque muitas cidades e localidades eram fictícias.

Além disso, os locais demonstrados no site HPC são aqueles que constam na obra de nossa Rainha do Crime – e não nos filmes ou nos episódios da série Poirot, estrelada por David Suchet, os quais nem sempre seguiram à risca o texto original de Agatha Christie, e muito menos foram sempre filmados nos locais onde ela situou suas estórias.



QUIZES:

O HPC propõe uma pergunta:

1* Você consegue dizer a qual estória pertence cada caso de Poirot?

E eu proponho outra:

2* Quais destas localidades são verdadeiras e quais são fictícias?


Então, vamos a elas (da esquerda para a direita, do Sul para o Norte):


St. Loo, Cornualha
St. Loo

Enquanto estava em férias aqui, Poirot e Hastings descobrem três atentados contra a vida do jovem proprietário da End house.


Loomouth, Cornualha
Loomouth

Aqui na Conualha, Poirot chega atrasado para uma festa. Ele quase perde o assassinato do Reverendo Babbington.


Churston Cove
Churston

Carmichael Clarke era um eminente laringologista. Com a cabeça esmagada ele foi a terceira vítima dos crimes ABC.


Torquay
Torquay

Este é o local de nascimento de nossa Rainha do Crime, Agatha May Clarissa Miller, em 1890.


Nassecombe
Nassecombe

Poirot vem até aqui para ajudar Mrs. Oliver em um jogo de caça ao assassino, mas a coisa acaba se tornando real demais.


Charlock Bay
Charlock Bay

Enquanto esteve aqui para visitar seu amigo Joseph Aarons, Poirot ajuda uma jovem a recuperar um conjunto de miniaturas roubadas.


Andover


Andover

Alice Ascher foi a primeira a ser assassinada nos crimes ABC. A mulher de idade, proprietária de uma loja, foi derrubada com uma pancada forte em sua cabeça.


Market Basin
Market Basin

Nesta pequena cidade, Poirot se deparou com alguns casos, entre eles:

- Certa vez, com o Inspetor Japp, Poirot investigou a morte de um idoso recluso.

- Em outra ocasião, Poirot recebeu uma carta de lá. Ele visita Littlegreen House, mas descobre que a pessoa que escrevera a carta já estava morta.


St. Mary Mead (Ou, bem que poderia ser, não é?)


St. Mary Mead

- Esta é a pequena vila de onde vem a esperta velhinha Miss Marple, é claro.

- Poirot nunca esteve aqui, mas um caso seu de roubo e assassinato apresentou uma conexão entre St. Mary Mead e a França.


Bexhill
Bexhill

Betty Bernard foi encontrada na praia, estrangulada com seu próprio cinto. A jovem garçonete foi a segunda assassinada dos crimes ABC.

The Hollow, Londres.
The Hollow

Na zona rural ao Sul de Londres, Poirot é convidado para uma festa. Ele chega bem a tempo de testemunhar um assassinato, com sangue escorrendo na piscina.


Londres
Londres

São vários os casos de Poirot em Londres, entre eles:

- Lord Edgware morre com uma apunhalada no pescoço.

- Tráfico de drogas é interrompido em uma casa noturna chamada Hell.

- Poirot ajuda um agente especial envolvido em um assassinato na casa de uma mulher cega.

- Benedict Farley, o milionário, tem um sonho no qual ele atira em si mesmo. E ele de fato faz isso.

- O dentista de Poirot é encontrado morto – após cuidar dos seus dentes!



Igreja de St. Mary
Styles St. Mary

Poirot esteve aqui duas vezes – ambas com Hastings.

- Tendo ficado exilado em função da 1ª Guerra Mundial, Poirot encontra aqui um lar e soluciona o assassinato de sua benfeitora, Sra. Inglethorp.

- Anos mais tarde Poirot retorna para resolver o assassinato se escondendo na reformada Styles Court.


Estação de trem, Broadhinny.


Broadhinny

Nesta pequena cidade, Poirot soluciona o assassinato de uma mulher idosa e liberta o acusado James Bentley.


Doncaster


Doncaster

George Earlsfield foi a quarta vitima dos crimes ABC, desta vez, não em uma cidade litorânea. Ele foi esfaqueado enquanto assistia a um filme.
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Obs: Algumas das fotos que publiquei não são de locais verdadeiros, já que alguns foram inventados por Agatha Christie. Porém, garanto que são todas imagens de localidades na Inglaterra as quais, em minha opinião, se assemelham aos descritos pela escritora em suas estórias.

Espero que tenham feito uma viagem agradável!

* Link direto para a página do HPC com o mapa:
http://www.poirot.us/pcrime.php#nogo


* Para mais informações sobre localidades na Inglaterra:


sábado, 22 de fevereiro de 2014

CRIMES & CULINÁRIA - Breve História da Gastronomia Britânica



 
ALVO de MUITAS PIADAS


Há poucos dias publiquei o primeiro artigo na nova seção deste blog: Crimes & Culinária, que integra meu projeto de pesquisa sobre as comidinhas na obra de Agatha Christie. Porém, fiquei pensando depois que seria mais interessante se eu tivesse situado antes a culinária das terras de nossa Rainha do Crime como introdução. Sendo assim, aqui vão algumas palavrinhas a respeito em uma espécie de introdução tardia: 

A culinária inglesa tem sido alvo de piadas há muito tempo. Eu mesma, comprei  em Londres um cartão postal com algumas charges ridicularizando sua cozinha, como aquela famosa do pobre homem desesperado correndo em disparada do cozinheiro que lhe mostra uma panela destampada de onde brota uma gosma verde borbulhante.

Mas, depois de assistir os programas de Nigela Lawson (http://www.nigella.com/) – (que mulher simpática e que comidas m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a-s!) ou de Jamie Olivie (http://www.jamieoliver.com/) na TV, não é mais possível se pensar tão mal dos hábitos alimentares nas terras anglo-saxônicas.




açafrão

Bem, uma vez que me propus a pesquisar a culinária na obra de Agatha Christie e a compartilhar aqui nesta seção curiosidades a respeito, assim como as respectivas receitas, fiquei pensando que seria oportuno também falar um pouco sobre a história da comida na Inglaterra, especialmente em face deste dilema – ou mistério, se preferir: de um lado, os pratos, doces ou salgados, que temperam a obra de Agatha Christie e nos chama a atenção, e do outro lado, esta lenda (provavelmente injusta) de que a melhor comida inglesa seria aquela que provém da Índia... ou de qualquer lugar estrangeiro...

 

NOS TEMPOS DOS INVASORES


noz moscada

Como ocorre em qualquer lugar que recebe muitos grupos advindos de outros locais, a culinária britânica foi largamente influenciada pelos invasores estrangeiros.

Os vikings trouxeram modos diferentes de se preparar a carne de caça, crua e fria ou então temperada e cozida em bebidas alcoólicas e fermentadas. Mais tarde os romanos trouxeram as especiarias, como o açafrão e a maça. Tempos depois vieram os normandos trazendo a noz-moscada, a pimenta, o gengibre e o açúcar.


 
pudim de ameixas


Como consequência desta reunião destes ingredientes e temperos, maravilhosamente exóticos aos olhos dos anglo-saxões da época, algumas delícias foram criadas. A cozinha medieval inglesa ficou então repleta de pratos adocicados, que podem ser facilmente encontradas nos dias de hoje sob o título de tradicionais.

 
pãezinhos quentes em cruz


São eles o Pudim de Ameixas (Plum Pudding), também conhecido como Pudim Natal (Christmas Pudding), aquele do livro As Aventuras do Pudim de Natal; o Bolo de Natal (Christmas Cake); e os Pãezinhos Quentes em Cruz (Hot Cross Buns).



NOS TEMPOS DO

IMPÉRIO BRITÂNICO
 

condimentos e especiarias da Índia

Durante séculos, a aristocracia se alimentava somente de pratos franceses, como era o costume, a fim de se distinguir dos camponeses e para assumir ares de superioridade e nobreza. Assim, a french cusine também desempenhou o seu papel de influência na culinária inglesa.

Em contrapartida, a Índia, colônia do Império Britânico na Asia Oriental, conquistou definitivamente os estômagos dos súditos da Rainha. Como consequência disso, eles se tornaram obcecados pelo curry, pelos molhos apimentados e pelos mais variados condimentos. Com isso, a comida inglesa tornou-se completamente rendida aos temperos e modos indianos de preparo de alimentos.
 

 
curry


NOS TEMPOS DE GUERRA

Entre tantos outros malefícios que as Guerras Mundiais provocaram, encontram-se os prejuízos para a gastronomia inglesa. É nesta época que a culinária britânica ganha sua má fama e se torna uma piada para além do Canal da Mancha.

As inúmeras dificuldades nos tempos de guerra, e em especial o racionamento de comida que perdurou até o inicio dos anos de 1950, afetou a produção de ingredientes básicos, como a carne, o açúcar, a manteiga e os ovos, tornando o preparo dos alimentos um processo difícil e penoso. Em vez de olharmos para os pratos estranhos ou pobres ou de gosto duvidoso preparados nesta época, deveríamos pensar na criatividade que as pessoas que cozinham tiveram que ter para conseguir preparar alguma coisa - qualquer coisa que pudesse matar a fome!   


 
NOS DIAS DE HOJE
 
jantar inglês caseiro de domingo: assado com legumes


Com tantos chefes de cozinha ingleses renomados, a gastronomia britânica contemporânea apresenta pratos simples ou requintados, tradicionais ou modernos, muito apreciados, recebendo de volta sua boa reputação. Como acontece em vários países do mundo, vários movimentos gastronômicos influenciam a preparação de alimentos na Inglaterra: movimentos vegetarianos, de comidas tradicionais, de comidas naturais, etc. Enfim, aqueles tempos das piadinhas ficaram definitivamente para trás.
 

purê verde
 
E  se um cozinheiro inglês lhe oferecer um purê verde e borbulhante, não fuja! Você poderá estar perdendo um verdadeiro majar dos deuses. Aproveite!

A menos que tenha motivos para suspeitar que o prato esteja envenenado....

Em todo caso: bon appetit!
 
 
 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

PERSONAGENS que também AMAMOS - A Língua Afiada de Mrs. Oliver


TAGARELICES

Zoe Wanamaker como Ariadne Oliver


Uma das coisas que eu mais gosto em Ariadne Oliver é a sua língua! Eu me divirto à beça com a maneira como ela desata a tagarelar deixando Poirot completamente desorientado. E nem sempre é porque ela está excitada com alguma descoberta ou devido a uma linha de pensamento que supõe levará à solução do caso. Não! Na maioria das vezes, ela simplesmente desata a falar, tentanto, é claro, chegar a um determinado ponto, mas dando a maior volta possível, com mil e uma referências e explicações e coisas das quais ela vai se lembrando na trilha de seus pensamentos. Portanto, é uma simples questão de tagarelice mesmo.

Mas também adoro os momentos em que silencia e observa os outros, para depois soltar aqueles seus comentários irônicos e sagazes. Ou ainda, quando revela seus pensamentos e opiniões sobre as coisas da vida  – tudo sempre divinamente interpretada por Zoe Wanamaker, no seriado britânico Poirot.
A RETUMBANTE VOZ DE CONTRALTO
Zoe Wanamaker como Ariadne Oliver


Aliás, a interpretação de Zoe Wanamaker é um capítulo à parte: ela é para mim a própria encarnação de Ariadne Oliver! Em tudo ela se assemelha às descrições feitas por Agatha Christie em sua obra. E se você está pensando que trata-se na verdade do fruto de um primoroso trabalho da equipe de caracterização (do pessoal da maquiagem, do cabelo, do figurino, etc.), note que o timbre de voz que Zoe Wanamaker consegue imprimir à Mrs. Oliver ao interpretá-la é realmente a retumbante voz de contralto, conforme a descrevia Agatha Christie, fato que somente poderia ser realizado pelo próprio trabalho de uma grande atriz!


Em vista disso, fiz uma breve pesquisa em alguns livros à procura das frases de Mrs. Oliver e selecionei algumas. Espero que se divirtam tanto quanto eu:
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Roberts. Um nome galês! Nunca confio nos galeses!
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Lembre-me de jamais ir nele quando ficar pobre!

(Ariadne dirigindo-se a Poirot e referindo-se ao Dr. Roberts)
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Não está simétrico o suficiente para você, não é?

(Ariadne para Poirot sobre uma obra de arte de bronze)
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(Ariadne) Você redecorou?

(Poirot) Não, Madame, eu me mudei.


(em Cartas na Mesa, 1936)
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Ele não esquia!! Ele tem 60 anos!!

(Ariadne para Robin Upwood)
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(Poirot) Você tem tudo o que precisa?
(Ariadne) Oh, sim, eu estou perfeitamente bem, resmas de papel, oceanos de tinta e eu tenho certeza de que Robin tem gin... Do que mais uma garota precisa?


(em A Morte da Senhora McGinty, 1952)  

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Zoe Wanamaker como Ariadne Oliver


— Nem bebo — disse a Sra. Oliver. — No que faço muito mal. Eu queria ser como os detetives dos policiais americanos, que vivem com garrafas de uísque embaixo da cama; parece que é o suficiente  para  solucionar  todos  os  problemas.

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Na minha opinião, assim que se comete um crime todas as pistas apontam para o culpado. (...) A  parte  do assassinato é fácil, o difícil é encobrir as pistas. O culpado passa a brilhar que nem gás néon.

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Diga-me Mark, você acha possível matar por controle remoto?

  Como  assim?  Apertando  um  botão,  emitindo  um  raio mortal radioativo?

— Não, não, nada de ficção científica — disse a Sra. Oliver. — Eu me refiro à magia negra.
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— Mas, por que — perguntou ela ao universo — o imbecil não diz logo que viu a cacatua? Por quê? (...)

(Ariadne falando sozinha e ignorando completamente a chegada de Mark)


(em O Cavalo Amarelo, 1961)


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— No almoço eu pensei em elefantes — explicou a Sra. Oliver.

— E por quê? — perguntou Poirot curioso.

— Por causa  dos  dentes, ora! (...) Pensei nos dentes humanos que são de osso, logo bastante fracos, e imaginei que bom seria se eu fosse um cachorro  que  tem  dentes  de  marfim.  Pensei  também  nos hipopótamos  e  nos  elefantes.  Aliás,  quando  alguém  pensa  em marfim,  a  primeira  coisa  que  vem  à  cabeça  é  o  elefante,  não  é? Principalmente aqueles enormes chifres de marfim.

— É bem verdade — disse Poirot, ainda sem entender aonde a Sra. Oliver pretendia chegar.


(em Os Elefantes Não Esquecem, 1972)
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Zoe Wanamaker como Ariadne Oliver



(Poirot) Como já deve ter deduzido, levou uma pancada na cabeça.
(Mrs. Oliver) Foi. Dada pelo Pavão.
O policial se mexeu na cadeira, confuso, e disse:  — Desculpe-me,  senhora, mas está dizendo que foi atacada por um pavão? (...)
  Veludos e cetim, e cabelos compridos e cacheados  — disse a Sra. Oliver.
  Um pavão vestido de cetim? Um pavão de verdade...  A senhora acredita ter visto um pavão perto do rio, em Chelsea?
— Um pavão de verdade? — perguntou a Sra. Oliver. —  Claro que  não. Que bobagem. O que poderia estar  fazendo um pavão naquelas bandas?
Era uma pergunta que ninguém poderia responder.
(em A Terceira Moça, 1966)

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

CRIMES & CULINÁRIA - Mistério ao Molho Branco



Prato do dia:

Um Crime Adormecido (1976)

com Haddock ao Molho Branco



Hoje dou início a uma série de postagens, resultado de uma pesquisa sobre a obra de Agatha Christie, focando os quitutes - salgados, doces, bebidas - que recheiam seus livros e saltam aos olhos de seus fãs.

Estas passagens alimentícias podem até não ter uma ligação direta com a trama, como pensariam os leigos em assuntos literários. Mas a verdade é que elas sempre ajudam a desenvolver  algum elemento crucial do enredo, como, por exemplo, a caracterização de personagens, o estabelecimento dos seus papéis na sociedade e das relações de poder entre eles; o andamento, teatral ou filmográfico, da cena; a definição dos cenários, etc. Enfim, definitivamente, estes pratos e bebidas que nos dão água na boca nas estórias da Rainha do Crime contribuem para deixá-las ainda mais apimentadas!  



O último - de Agatha e de Miss Marple



Um Crime Adormecido (Sleeping Murder, 1976), embora tenha sido escrito durante a 2ª Guerra Mundial, foi publicado postumamente, uma vez que Agatha Christie faleceu no início daquele mesmo ano, em 12 de janeiro de 1976. Trata-se também do último caso resolvido pela velhinha detetive amadora Miss Marple.





No livro, temos a estória da simpática Gwenda Reed, a jovem recém casada que se mudou para a Inglaterra a fim de encontrar uma casa no Sul, perfeita para iniciar sua nova vida ao lado do marido Giles, que viajava a trabalho. Mas, estranhamente, depois de comprar e se instalar na antiga casa vitoriana, ela parecia se recordar de coisas relacionadas à casa, como os padrões do papel de parede, fatos que ela só poderia saber se já estivesse estado lá – mas isso nunca acontecera! Seria Gwenda então uma espécie de vidente? Era o que ela mesma começava a imaginar... até pedir a ajuda de Miss Marple. 



Na bela casa de Gwenda Reed, quem reinava na cozinha era a conservadora Sra. Cocker, que fazia questão de lembrar sua patroa dos costumes britânicos, inclusive aqueles para se alimentar:

 Naquela manhã, a Sra. Cocker pôs a bandeja do café no colo de Gwenda, que se sentara na cama.
-  Quando  não    um  cavalheiro  em  casa,  disse  a  Sra.  Cocker  - as  senhoras preferem tomar o café na cama. Gwenda curvou-se ante a suposta regra britânica.

-  Hoje  de  manhã  são  ovos  mexidos,  prosseguiu  a  Sra.  Cocker.  - A  senhora falou em haddock, mas no quarto não é bom. Deixa muito cheiro. Vou preparar haddock ao molho branco e torradas para o jantar.

Quem é que manda mesmo aqui? 


Geraldine McEwan como Miss Marple
É muito interessante como a Sra. Cocker, apesar da posição que ocupa na hierarquia social, não faz cerimônias em ditar as regras dos modos que considera adequados a sua patroa. (Veja links ao final sobre a hierarquia e a história dos serviçais domésticos na era vitoriana e também sobre a sociedade vitoriana em geral) A Sra. Cocker inclusive refuta sem pestanejar um suposto pedido de Gwenda - para comer o haddock no café da manhã - e decide não só o que será servido no quarto então - ovos mexidos - mas quando e como irá preparar o haddock: à noite, para o jantar e ao molho branco com torradas.

Esta passagem situa bem os papéis tanto da Sra. Cocker como de Gwenda: a primeira, como a detentora do conhecimento acerca dos hábitos e costumes corretos a serem seguidos e aquela capacitada a ensiná-los e exigi-los; e Gwenda, que mesmo sendo a dona da casa, se coloca em posição de obediência ou pelo menos de não protestar, na medida em que se curva ante a suposta regra britânica.

Além disso, a passagem pode ser expandida para atestar várias outras coisas que denotam a época e o local da estória (perspectiva diacrônica), dentre elas:

- a dignidade e o orgulho dos quais os criados ingleses eram imbuídos;
- o, digamos, misto de desconfiança e impaciência (para dizer o mínimo) com pessoas estrangeiras ou desconhecidas que provinham de outro local.
- o apego pela tradição e pelos costumes, que são mantidos através das regras de comportamento.


Então vamos ao prato!
   

Bem, já que a pobre Gwenda não pôde comer seu haddock na cama para o café da manhã, vamos começar então com ele. Eu particularmente adoro haddock, especialmente na forma de sashimi. Mas ao molho branco, como avisa a Sra. Cocker que irá preparar para o jantar, também é delicioso, ainda mais se acompanhados de torradas bem temperadinhas, ou mesmo de batatas cozidas e cogumelos Champion. 

O haddock está bem presente na culinária britânica. Podemos encontrar diversas receitas e modos diferentes de prepará-lo (links ao final). Uma delas seria o haddock assado no forno, da forma comum de se assar um peixe, com os temperos de sua preferência e servido em uma postas, regadas ao molho branco. Outra opção bastante comum na Inglaterra é a gratinada, como na receita a seguir. Em ambos os casos, ele pode vir acompanhado das torradas, como provavelmente é o caso do livro, ou de batatas ou cenouras cozidas. (Para esta e outras receitas inglesas veja o link abaixo) 

HADDOCK ao MOLHO BRANCO
e TORRADAS:



INGREDIENTES:

* 1 kg haddock (se for defumado, melhor ainda!)
* ½ xicara de parmesão ralado
*  2 xícaras de leite 
*  2 colheres (sopa) de manteiga 
*  2 colheres (sopa) de farinha de trigo 
*  sal, noz - moscada e pimenta do reino branca a gosto
* torradas frescas
* sumo de limão

MODO DE PREPARO:

HADDOCK: Escalde o haddock em água quente e reserve. Se preferir, use leite no lugar da água: o haddock ficará mais tenro e suculento.

MOLHO BRANCO:



1.  Ferva o leite 
2.  Derreta a manteiga, junte a farinha e mexa bem até obter uma pasta homogênea 
3.  Aos poucos, acrescente o leite e bata, constantemente, para não empelotar 
4.  Deixe cozinhar por alguns minutos e tempere com sal, noz-moscada e pimenta 

• Obs:  Essa é uma típica receita francesa, portanto qualquer alteração descaracteriza o molho.

MONTAGEM DO PRATO:



Em um refratário, coloque uma camada de molho, sobreponha o Haddock defumado reservado e cubra com o restante do molho. Por último, salpique com o queijo parmesão ralado e leve ao forno para gratinar. Sirva com torradas frescas salpicadas com algumas gotas de limão - isso dá um sabor surpreendente!


BOM APETITE!!


* Hierarquia dos servidores domésticos na era vitoriana: http://www.waynesthisandthat.com/servantwages.htm 

* História dos serviçais na era vitoriana: http://www.historyspark.com/fin/servants.html

* Sociedade inglesa vitoriana:
http://kspot.org/holmes/kelsey.htm

* Receitas britânicas:
http://www.bbcgoodfood.com/recipes/collection/british