sexta-feira, 26 de setembro de 2014

AGATHA & FASHION - O ESMALTE DAS ESCRITORAS


AGATHA CHRISTIE EM SUAS MÃOS






Atenção meninas: a Granado (links ao final) lançou recentemente uma nova coleção de esmaltes inspirada em escritoras famosas. E qual escritora não poderia ficar de fora deste grupo? Nossa Agatha Christie, é claro!








A linha Escritoras é formada por 7 cores, e cada uma recebeu o 1º nome de uma autora renomada: Charlotte (Charlotte Brontë), Jane (Jane Austen), Emily (Emily Dickinson), Louisa (Louisa May Alcott), Agatha (Agatha Christie), Virginia (Virginia Woolf) e Sylvia (Sylvia Plath).








O esmalte Agatha é aquele com a cor marrom avermelhado. Segundo os fabricantes, ele é enriquecido com Vitamina E, cálcio e proteína da seda, fortalece as unhas, deixando-as saudáveis e protegidas, evitando assim a quebra e descamação, além de ser de secagem rápida.








Bem, mas o que importa para nós mesmo, o clube feminino de fãs de Agatha Christie, é que ele é lindo! Aliás, todos são. E vêm em uma caixa bem bonita. Eu já comprei o meu. 


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https://www.granado.com.br/Loja/Produto/1990



AGATHA & FILATELIA - Selos da Grã-Bretanha: Centenário e Desaparecimento


Selos da Grã-Bretanha: 2 FATOS IMPORTANTES






1º- O CENTENÁRIO DE AGATHA CHRISTIE EM 1990


Um dos fatos mais dignos de celebração e emissão de selos comemorativos diz respeito ao Centenário de Agatha Christie, lembrado na série de selos e carimbos emitidos pelo Bureau Filatélico da Grã-Bretanha:



Poster filatélico comemorativo do centenário de Agatha Christie com carimbo de Torquay, cidade natal da escritora.




Poster filatélico comemorativo do centenário de Agatha Christie com carimbo de Torquay, cidade natal da escritora.



Poster filatélico alusivo ao 1ª livro com Hercule Poirot: O Misterioso Caso de Styles (1920).
Carimbo alusivo à obra Assassinato no Expresso do Oriente (1934)


Poster filatélico alusivo às diferentes armas dos crimes escritos por Agatha Christie.Carimbo alusivo à obra Assassinato no Expresso do Oriente (1934)




Poster filatélico alusivo à faca, uma das armas dos crimes escritos por Agatha Christie.Carimbo alusivo à obra Assassinato no Expresso do Oriente (1934)




Detalhe do carimbo alusivo à obra Assassinato no Expresso do Oriente (1934)




Detalhe do carimbo alusivo a mansão Styles, que inspira o título da obr O Misterioso Caso de Styles (1920)




Poster filatélico alusivo ao 1ª livro com Hercule Poirot: O Misterioso Caso de Styles (1920).
Foto: Agatha Christie com sua filha Rosalind no colo.



Poster filatélico alusivo à Miss Jane Marple.
Foto: Joan Hickson como Miss Marple.

Detalhe do carimbo com um novelo de lã, alusivo à Miss Marple, que era idosa e adorava fazer tricô.



Poster filatélico alusivo a Hercule Poirot.
Foto: David Suchet como Hercule Poirot.





2º- O ESTRANHO DESAPARECIMENTO DE AGATHA CHRISTIE 


O Bureau Filatélico da Grã-Bretanha não poderia deixar passar em branco o caso do desaparecimento de Agatha Christie por 10 dias, em dezembro de 1926. O caso gerou uma comoção internacional, envolvendo autoridades policiais e pessoas famosas em sua procura, e levantou suspeitas de seu assassinato, de suicídio e até mesmo de um golpe publicitário. Para conhecer a história completa e detalhada deste misterioso desaparecimento de Agatha Christie – os acontecimentos da época, os fatos investigados pela polícia, as teorias, o filme produzido a respeito, as conclusões - leia a série desta blogazine dividida em 4 artigos a respeito:  



Poster filatélico alusivo ao fato de que, após 10 dias de intensas buscas, Agatha Christie foi encontrada no Hotel Harrogate.




Poster filatélico alusivo ao nome falso com o qual Agatha Christie se hospedou no Hotel Harrogate.






domingo, 21 de setembro de 2014

Especial - OBRIGADA, AGATHA CHRISTIE!


PARA SEMPRE, PARABÉNS,

AGATHA CHRISTIE!





Obrigada, Agatha Christie, por tantos momentos maravilhosos, tantos títulos sugestivos, tantos personagens queridos, tantas tramas inteligentemente arquitetadas, tantas unhas ruídas, tantos lábios inconscientemente mordidos, tantas surpresas, tantas páginas de suspense, devoradas, nervosamente, angustiadamente.

Obrigada por me enganar tantas e tantas vezes, e por me mostrar outras tantas, que as coisas aparentemente super complexas, intrincadas, impossíveis, são, na verdade, tão lógicas, tão simples, tão claras.

Obrigada, minha querida Agatha Christie, por seu legado, por compartilhar um pouco de sua intimidade, por seus ensinamentos de vida, como lutadora, como esposa, mãe, filha, avó, como mulher.

Obrigada pelas aventuras deliciosas pelas quais passei através de seus livros, e pelos grandes exemplos que me proporcionou. A você dedico tantos e tantos agradecimentos quanto são os mistérios que criou. 

Para sempre, muito obrigada!




Assassinato no Campo de Golfe
Um Gato Entre os Pombos
Assassinato no Expresso do Oriente
         Treze à Mesa
O      Homem do Terno Marrom
         Assassinato na Casa do Pastor

A       Casa do Pastor
         Hora Zero
Os    Relógios
O      Inimigo Secreto
         Sócios no Crime
         Testemunha de Acusação
       MIstério no Caribe

         Encontro com a Morte


O Método Christie - ARIADNE CONTA TUDO (parte 1) sobre a ARTE DE ESCREVER e a CONSTRUÇÃO DE PERSONAGENS


AS  CONFISSÕES  VELADAS  DE  AGATHA  CHRISTIE


David Suchet como Hercule Poirot e Zoe Wanamaker como Ariadne Oliver


Você pode até não ser um grande fã de Mrs. Ariadne Oliver, a famosa escritora de romances policiais, amiga de Hercule Poirot e viciada em maçãs, criada por Agatha Christie – e a qual, a propósito, muitos acreditam ser esta personagem uma versão autobiográfica da própria Rainha do Crime (veja detalhes no artigo: Mrs Oliver seria a própria Agatha Christie?  (http://agathachristieobraeautora.blogspot.com.br/2013/07/quarta-e-dia-de-last-but-not-least.html )

Mas, sendo você um admirador de Agatha Christie, não pode negar que, através das falas de Mrs. Oliver, a escritora nos passa algumas de suas impressões sobre o mundo, as pessoas, as coisas em geral. E, o mais interessante, Agatha Christie nos revela ideias e visões sobre a vida e sobre o que seria o trabalho de uma escritora de romances policiais! 


DE UMA ESCRITORA PARA OUTRA



Agatha Christie


Todos nos encantamos com o método Christie para conceber estórias de crime e mistério. Mas Dame Agatha nunca escreveu um tratado sobre a arte de conceber romances policiais. É através da voz de Mrs Oliver que obtemos – supostamente – algumas pistas sobre os pensamentos de Agatha Christie sobre seu ofício. Ou, talvez, sobre justamente o contrário: como ela acreditava que não se deveria escrever romances policiais e detetivescos, uma vez que muitas das observações de Mrs Oliver são, digamos, polêmicas e controversas. Afinal, seja uma coisa ou outra, com Agatha Christie, nunca se sabe: algo pode parecer ser de um modo, mas também pode se revelar no final das contas ser uma coisa completamente diferente!

Sabendo disso, Bill Peschel, autor de Writers Gone Wild (2010, Penguin Press) e de vários romances anotados de Agatha Christie e Dorothy L. Sayers, teve uma ideia daquelas que você fica se perguntando: Por que eu não pensei nisso antes?, e reuniu uma coletânea destas frases de Mrs Oliver, separadas por tema. Bom trabalho! Congratulando Bill Peschel pela ótima ideia, dou início aqui a uma série de artigos nos quais apresento algumas passagens de Ariadne Oliver, organizadas em tópicos dentro da temática do árduo trabalho de uma escritora de romances policiais, e devidamente comparadas ou ligadas a alguma situação semelhante na vida de Agatha Christie. 

obs: Repito: tire você suas próprias conclusões!


ARIADNE OLIVER  &  A ÁRDUA ARTE DE ESCREVER



O que Agatha Christie pensava sobre...

A CONSTRUÇÃO DE PERSONAGENS



Zoe Wanamaker como Ariadne Oliver

obs: Semelhante a Agatha Christie, cujo famoso detetive, Hercule Poirot, era belga, Sven Hjerson, o detetive criado por Ariadne Oliver, não era inglês: era finlandês.

Só lamento uma coisa - fazer do meu detetive um finlandês. Eu realmente não sei nada sobre os finlandeses e estou sempre recebendo cartas da Finlândia apontando algo impossível que ele tenha dito ou feito. Eles parecem ler bastante histórias de detetive na Finlândia. Acho que são os longos invernos sem luz do dia. Na Bulgária e na Romênia eles parecem não ler. Eu teria feito melhor se o tivesse criado uma búlgaro. 

(Cartas na Mesa, 1936)


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obs: Assim como ocorre com Hercule Poirot, que despreza a comida inglesa e tem hábitos alimentares peculiares, Sven Hjerson, o detetive criado por Ariadne Oliver, era vegetariano.

Mas eu realmente não sinto que é certo fazer dele um vegetariano, querida, Robin discordava. Muito caprichoso da parte dele. E definitivamente não é glamouroso

Eu não posso fazer nada, disse Mrs. Oliver obstinadamente. Ele sempre foi um vegetariano. Ele leva consigo uma pequena máquina para ralar cenouras cruas e nabos.

Mas Ariadne, querida, por quê?

Como eu sei?, Disse Mrs. Oliver irritada. Eu sei lá por que eu imaginei aquele homem revoltante? Eu devia estar louca! Por que um finlandês se eu não sei nada sobre a Finlândia? Por que um vegetariano? Por que todos os maneirismos idiotas que ele tem? Essas coisas simplesmente acontecem. Você tenta algo - e as pessoas parecem gostar disso - e então você vai em frente - e antes que você saiba onde você está, você tem alguém assim enlouquecedor como Sven Hjerson vinculado a você para a vida. E as pessoas ainda escrevem e perguntam o quanto você deve gostar dele. Gostar dele? Se eu encontrasse aquele esquelético e desengonçado comedor de vegetais finlandês na vida real, eu cometeria um assassinato melhor do que qualquer outro que eu já inventado. 

(A Morte da Sra. McGinty, 1952)



Zoe Wanamaker como Ariadne Oliver


obs: Agatha Christie já foi criticada como sendo fria e insensível por ter criado estórias onde uma criança ou uma jovem e bela mulher ou um belo rapaz são assassinados, bem como por ter atribuído a culpa a justamente uma jovem e bela mulher ou um belo homem.

Eu acredito agora que ela o tenha feito. É sorte que isso não tenha ocorrido em um livro. Eles realmente não gostam quando a garota jovem é quem cometeu o crime. 

(Cartas na Mesa, 1936)


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obs: Inúmeras vezes perguntaram a Agatha Christie se ela utilizava pessoas conhecidas em suas estórias, assim como lhe questionavam quem seria Miss Marple e Hercule Poirot na vida real. No trecho a seguir, Mrs Oliver explica a seu amigo Poiot como uma pessoa totalmente desconhecida pode lhe servir de inspiração para a criação de um personagem.

Não é porventura verdade dizer, madame, que você reproduz as pessoas em livros, às vezes? As pessoas que você encontra, mas não, eu concordo, as pessoas que você conhece. Não haveria diversão nisso.

Você está certo, disse Mrs. Oliver. Acontece assim, quero dizer, você vê uma mulher gorda sentada em um ônibus comendo um bolo de groselha e seus lábios estão se movendo enquanto ela come, e você pode ver que ela ou quer dizer alguma coisa a alguém ou está pensando em um telefonema que vai fazer, ou talvez uma carta que vai escrever. E você olha para ela e você estuda seus sapatos e a saia que ela usa e seu chapéu e adivinha a idade dela e se ela tem um anel de casamento e algumas outras coisas.

E depois que você sai do ônibus. Você não pretende vê-la nunca mais, mas você tem uma história em sua mente sobre alguém chamado Sra Canaby que está indo para casa em um ônibus, tendo feito uma entrevista muito estranho em algum lugar onde ela viu alguém em uma lanchonete e lembrou-se de alguém que ela só tinha conhecido uma vez que ela tinha ouvido falar que estava morto e, aparentemente, não está morto. 

(Noite das Bruxas, 1969)



sábado, 13 de setembro de 2014

Notícias & Novidades - EXCLUSIVO: LEIA AQUI O 1º CAPÍTULO DE "OS CRIMES DO MONOGRAMA"!


O 1º CAPÍTULO DE

OS CRIMES DO MONOGRAMA 

por Sophie Hannah




Neste mês de setembro de 2015, o universo de fãs de Agatha Christie comemora seu aniversário e celebra esta que é a maior escritora de literatura de crime e mistério do mundo. E esta blogazine especialmente dedicada à Rainha do Crime não poderia ficar de fora!

Os eventos comemorativos deste ano estão focados especialmente no lançamento de Os Crimes do Monograma, escrito por Sophie Hannah e inspirado no personagem e na literatura de Agatha Christie, trazendo o mais novo caso de nosso detetive favorito, Hercule Poirot!

Mas você ainda não adquiriu o seu exemplar? Não se preocupe!

A Editora Nova Fronteira, que lança o livro no Brasil, gentilmente cedeu a esta blogazine o 1º capítulo para publicação, a fim de que você possa ter um gostinho do que vai ser esta nova aventura de Poirot! 

Divirtam-se!!


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OS CRIMES DO MONOGRAMA


O NOVO MISTÉRIO DO DETETIVE POIROT


por Sophie Hannah

Os crimes do monograma © 2014, Agatha Christie Limited. Todos os direitos reservados.
AGATHA CHRISTIE® [POIROT®] é uma marca registrada de
Agatha Christie Limited no Reino Unido e/ou em outros locais.
Todos os direitos reservados.

Direitos de edição da obra em língua portuguesa no Brasil adquiridos pela Editora Nova Fronteira Participações S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação etc., sem a permissão do detentor do copirraite.

Editora Nova Fronteira Participações S.A.
Rua Nova Jerusalém, 345 – Bonsucesso – 21042-235
Rio de Janeiro – RJ – Brasil
Tel.: (21) 3882-8200 – Fax: (21)3882-8212/8313

O Soneto 70 de William Shakespeare que aparece na página 104 foi
traduzido por Thereza Christina Rocque da Motta (Ibis Libris, 2009).
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
H219c
Hannah, Sophie
      Os crimes do monograma / Sophie Hannah ; tradução Alyne
Azuma. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2014.
23 cm.
     Tradução de: The Monogram Murders
      ISBN 9788520939253
      1. Romance inglês. I. Azuma, Alyne. II. Título.
14-14586       CDD: 823
     CDU: 821.111-3


para Agatha Christie


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Capítulo 1

Jennie em fuga


— O que estou dizendo é que não gosto dela — sussurrou a garçonete de cabelo esvoaçante. Foi um sussurro alto, facilmente entreouvido pelo cliente solitário que estava no Pleasant’s Coffee House, que se perguntou se esse “ela” em questão seria outra garçonete ou uma cliente regular como ele.
— Não sou obrigada a gostar dela, sou? Se pensa diferente, é você quem sabe.
— Ela me pareceu até simpática — comentou a garçonete mais baixa, de rosto redondo, parecendo menos convicta do que alguns minutos antes.
— É o que ela faz quando fica com o orgulho ferido. Assim que se recupera, sua língua começa a destilar veneno de novo. Devia ser o contrário. Conheço muita gente assim... Nunca confie nesse tipo.
— Como assim “o contrário”? — perguntou a garçonete de rosto redondo.
Hercule Poirot, o único cliente no café às sete e meia naquela noite de quinta em fevereiro, sabia o que a garçonete de cabelo esvoaçante queria dizer. E sorriu para si mesmo. Não era a primeira vez que ela fazia um comentário sagaz.
— É perdoável alguém dizer uma indelicadeza num momento difícil; eu mesma já fiz isso, não me importo em admitir. E, quando estou feliz, quero que os outros fiquem felizes. É assim que deve ser. Mas existem pessoas, como  ela, que tratam os outros pior quando as coisas vão bem. É com elas que você precisa se preocupar.
“Bien vu”, pensou Hercule Poirot. “De la vraie sagesse populaire.”
A porta do café se abriu de repente e bateu na parede. Uma mulher, usando casaco marrom-claro e chapéu de um tom mais escuro, parou no batente. Tinha cabelos louros. Poirot não conseguiu ver o rosto. Ela estava com o rosto virado, olhando por sobre o ombro, como se esperasse alguém.
Alguns segundos de porta aberta foram suficientes para que o ar frio da noite acabasse com todo o aquecimento do pequeno recinto. Normalmente isso teria enfurecido Poirot, mas ele estava interessado na recém-chegada, que havia feito uma entrada tão dramática e nem parecia se importar com a impressão causada.
Ele cobriu a xícara com a mão na esperança de preservar a tempera-tura de seu café. Esse pequeno estabelecimento de paredes encurvadas da St. Gregory’s Alley, em uma parte de Londres que estava longe de ser a mais distinta, preparava o melhor café que Poirot já tinha tomado no mundo inteiro. Em geral ele não bebia café antes do jantar, nem depois — aliás, essa ideia o deixaria horrorizado em circunstâncias normais —, mas toda quinta-feira, quando ia ao Pleasant’s às sete e meia em ponto, abria uma exceção à regra. A essa altura, ele considerava a exceção se-manal uma singela tradição.
Poirot gostava bem menos das outras tradições relacionadas àquele café: ter de posicionar os talheres, o guardanapo e o copo d’água corretamente na mesa, ao chegar e se deparar com tudo desalinhado. Era evidente que, para aquelas garçonetes, bastava que os itens estivessem em algum lugar — qualquer lugar — da mesa. Poirot discordava e fazia questão de impor a ordem assim que chegava.
— Com licença, a senhorita se importa de fechar a porta se for entrar? — pediu a Cabelo Esvoaçante à mulher de chapéu e casaco marrons, que continuava olhando para a rua com uma das mãos apoiada no batente. — Ou mesmo que não vá entrar. Nós, que estamos aqui dentro, não queremos congelar.
A mulher deu um passo e entrou. Fechou a porta, mas não se desculpou por tê-la mantido aberta por tanto tempo. Sua respiração irregular era audível mesmo do outro lado do salão. Ela parecia não notar que havia outras pessoas presentes. Poirot a cumprimentou com um discreto boa-noite. A mulher virou de leve o rosto para ele, sem esboçar uma resposta. Seus olhos estavam arregalados, com um temor incomum — poderoso o bastante para paralisar qualquer incauto, com uma força quase física.
Poirot não estava mais sentindo a calma e o contentamento de quando chegara. Seu plácido estado de espírito tinha sido perturbado.
A mulher correu para a janela e olhou para fora. Ela não vai encontrar o que quer que esteja procurando, pensou Poirot. Quando se olha para a escuridão da noite de dentro de um lugar bem-iluminado, o vidro reflete a imagem de onde se está e fica difícil ver muito além. No entanto, ela continuou olhando nessa direção por algum tempo, parecendo determinada a observar a rua.
— Ah, é você — disse a Cabelo Esvoaçante um tanto impaciente. — O que foi? Aconteceu alguma coisa?
A mulher de casaco e chapéu marrons se virou.
— Não, eu... — As palavras saíram como um soluço. Então conseguiu se recompor. — Não. Posso ficar na mesa do canto? — Ela apontou para a mesa mais distante da porta de entrada.
— Você pode ficar em qualquer mesa, fora a que aquele senhor está ocupando. Estão todas postas. — Ao se lembrar de Poirot, Cabelo Esvoaçante acrescentou: — Seu jantar está quase pronto, senhor. 
Poirot ficou feliz com a notícia. A comida do Pleasant’s era quase tão boa quanto o café. Aliás, quando pensava nos dois juntos, Poirot achava difícil acreditar no que sabia ser verdade: todos os que trabalhavam na cozinha ali eram ingleses. “Incroyable.”Cabelo Esvoaçante se voltou para a mulher aflita.
— Tem certeza de que não aconteceu nada, Jennie? Parece que você ficou frente a frente com o diabo.
— Estou bem, obrigada. Uma xícara de chá quente e forte é tudo de que preciso. O de sempre, por favor.
Jennie correu para a mesa mais distante, passando por Poirot sem olhar para ele, o qual virou um pouco a cadeira para poder observá-la. Com certeza quase absoluta alguma coisa tinha acontecido; algo que ela não queria comentar com as garçonetes do café, obviamente.
Sem tirar o chapéu nem o casaco, ela ocupou uma cadeira de costas para a porta de entrada, mas, assim que se sentou, virou-se de novo para olhar por sobre o ombro. Poirot pôde assim examinar o rosto da mulher, e deduziu que ela tinha cerca de quarenta anos. Seus grandes olhos azuis estavam arregalados e não piscavam. Parecia, Poirot refletiu, que estavam vendo uma imagem chocante — “frente a frente com o diabo”, como Cabelo Esvoaçante tinha comentado. Mas, até onde Poirot podia ver, não havia nenhuma imagem assim diante de Jennie, apenas o salão quadrangulado com mesas, cadeiras, o cabideiro de madeira para chapéus e casacos no canto e as prateleiras envergadas, suportando o peso de chaleiras de diferentes cores, estampas e tamanhos.
Aquelas prateleiras eram o suficiente para deixar alguém com calafrios! Poirot não entendia por que uma prateleira encurvada não podia ser simplesmente substituída por uma reta, assim como não compreendia por que alguém colocaria um garfo em uma mesa quadrada sem se certificar de que ele ficasse paralelo à borda lateral. No entanto, nem todos pensavam como Hercule Poirot; fazia tempo que ele havia aceitado o fato — tanto as vantagens quanto as desvantagens que isso lhe trazia.
Virada na cadeira, a mulher — Jennie — olhava aterrorizada para a porta, como se esperasse que alguém fosse surgir a qualquer momento. Estava tremendo, talvez em parte por causa do frio.
Não — Poirot mudou de ideia —, não tinha nada a ver com o frio. O local já estava aquecido de novo. E, como Jennie estava decidida a olhar para a porta e, mesmo assim, ficar sentada de costas e o mais longe possível da entrada, só era possível chegar a uma conclusão.
Pegando sua xícara de café, Poirot se levantou e foi até onde ela estava sentada. Notou que a mulher não usava aliança.
— Poderia me sentar um pouco, Mademoiselle? — Poirot teria gostado de arrumar os talheres, o guardanapo e o copo d’água daquela mesa, como havia feito na sua, mas se conteve.
— Como? Sim, acho que sim. — O tom revelava que ela não se importava nem um pouco. Só estava preocupada com a porta do estabelecimento. Continuava olhando avidamente para a entrada, ainda virada na cadeira.
— Deixe que eu me apresente. Meu nome é... hum... — Poirot se deteve. Se dissesse seu nome, Cabelo Esvoaçante e a outra garçonete ouviriam, e ele não seria mais o “senhor francês”, o policial aposentado. O nome Hercule Poirot tinha um efeito poderoso em algumas pessoas. Nas últimas semanas, desde que havia entrado em um agradável estado de hibernação, Poirot tinha sentido pela primeira vez em muito tempo o alívio de não ser ninguém específico.
Não poderia estar mais claro que Jennie não estava interessada em seu nome nem em sua presença. Uma lágrima que havia escapado do canto do olho dela escorria pelo rosto. — Mademoiselle Jennie — disse Poirot, esperando que, ao usar o primeiro nome, tivesse mais sucesso em chamar sua atenção. — Eu era policial. Estou aposentado agora, mas, antes disso, vi em meu trabalho muitas pessoas em estados de agitação semelhantes ao que a senhorita se encontra agora. Não me refiro àqueles que estão infelizes, ainda que sejam abundantes em qualquer país. Não, estou falando de pessoas que acreditavam estar em perigo.
Finalmente surtiu efeito. Jennie fixou os olhos assustados e arregalados nele.
— Um... Um policial?
— Oui. Eu me aposentei muitos anos atrás, mas...
— Então o senhor não pode fazer nada em Londres? Não pode... quero dizer, não tem poder aqui? De prender criminosos ou coisas assim?
— Exato. — Poirot sorriu para ela. — Em Londres, sou apenas um idoso, desfrutando sua aposentadoria. Ela não olhava para a porta fazia quase dez segundos.
— Estou certo, Mademoiselle? A senhorita acredita estar em pe-rigo? Está olhando por sobre o ombro porque desconfia que a pessoa de quem tem medo a seguiu até aqui e vai entrar por aquela porta a qualquer momento?
— Ah, estou em perigo, sim! — Ela parecia querer dizer mais. — Tem certeza de que o senhor não pode atuar como policial ou algo do gênero?
— Não posso de modo algum — garantiu ele. Sem querer que a mulher achasse que ele não tinha nenhuma influência, Poirot acrescentou: — Tenho um amigo que é detetive da Scotland Yard, se precisar da ajuda da polícia. Ele é bastante jovem, trinta e poucos anos, mas acredito que tem futuro. E ficaria feliz em falar com a senhorita, tenho certeza. De minha parte, posso oferecer... — Poirot parou de falar quando a garçonete de rosto redondo se aproximou com uma xícara de chá.
Depois de servi-la a Jennie, ela foi para a cozinha. Cabelo Esvoaçante também tinha se retirado para o mesmo lugar. Sabendo que a garçonete gostava de comentar o comportamento dos clientes regulares, Poirot imaginou que, naquele momento, estivesse tentando promover uma discussão acalorada sobre o Senhor Estrangeiro e sua inesperada visita à mesa de Jennie. Ele não costumava falar mais do que o necessário com nenhum dos clientes do Pleasant’s. Com exceção de quando jantava lá com seu amigo Edward Catchpool — o detetive da Scotland Yard com quem temporariamente estava morando numa pensão —, Poirot se confinava à sua própria companhia, no espírito de la hibernation. As fofocas das garçonetes do café não lhe interessavam; estava grato pela conveniente ausência delas. E esperava que isso deixasse Jennie mais disposta a falar com franqueza.
— Eu ficaria feliz em oferecer meu aconselhamento, Mademoiselle.
— O senhor é muito gentil, mas ninguém pode me ajudar. —
Jennie enxugou os olhos. — Eu gostaria de ser ajudada... mais do que qualquer coisa! Mas é tarde demais. Já estou morta, entende, ou logo vou estar. Não posso me esconder para sempre.Já estou morta... As palavras dela trouxeram uma nova onda de frio ao lugar.
— Então, veja, não há como ajudar — continuou —, e, mesmo que houvesse, eu não mereceria. Mas... me sinto um pouco melhor com o senhor aqui. — Ela colocou os braços em volta do corpo para se reconfortar, ou como uma tentativa vã de parar de tremer. Não tinha tomado uma gota do chá. — Por favor, fique. Nada vai acontecer enquanto eu estiver conversando com o senhor. É um consolo, pelo menos.
— Mademoiselle, isso é muito preocupante. A senhorita está viva agora, e precisamos fazer o que for necessário para mantê-la assim. Por favor, me diga...
— Não! — Ela arregalou os olhos e se encolheu na cadeira. — Não, o senhor não pode! Nada deve ser feito para impedir isso. Não há como impedir, é impossível. Irremediável. Quando eu estiver morta, a justiça será feita, finalmente. — Ela olhou por sobre o ombro em direção à porta novamente.Poirot franziu o cenho. Talvez Jennie estivesse se sentindo melhor depois que ele se sentou à sua mesa, mas, sem dúvida, ele se sentia pior.
— Estou entendendo direito? A senhorita está sugerindo que quem a está perseguindo pretende assassiná-la?Jennie fixou seus olhos azuis lacrimejantes nele.
— É assassinato se você desiste e deixa acontecer? Estou tão cansada de fugir, de me esconder, de sentir tanto medo. Quero que acabe logo, se vai acontecer, e vai, porque precisa acontecer. É a única maneira de acertar as coisas. É o que eu mereço.
— Não pode ser — disse Poirot. — Sem saber os detalhes do seu problema, discordo da senhorita. Um assassinato nunca pode estar certo. Meu amigo, o policial... A senhorita precisa deixar que ele a ajude.
— Não! O senhor não pode contar palavra alguma disso a ele, nem a ninguém. Prometa que não vai contar!Hercule Poirot não tinha o hábito de fazer promessas que não podia cumprir.
— O que a senhorita poderia ter feito que merecesse a punição na forma de um assassinato? A senhorita tirou a vida de alguém?
— Não faria diferença se fosse o caso! O assassinato não é a única coisa imperdoável, sabia? Não imagino que o senhor já tenha feito algo realmente imperdoável, não é?
— E a senhorita fez? E acredita que precisa pagar com a própria vida? Non. Isso não está certo. Se eu pudesse convencê-la a me acompanhar à minha pensão... fica bem perto daqui. Meu amigo da Scotland Yard, o sr. Catchpool...
— Não! — Jennie levantou da cadeira de um salto.
— Por favor, sente-se, Mademoiselle.
— Não. Ah, eu falei demais! Como sou idiota! Só contei porque o senhor parece tão gentil, e achei que não pudesse fazer nada. Se não tivesse contado que estava aposentado e era de outro país, eu nunca teria dito nada! Prometa: se eu for encontrada morta, o senhor vai pedir ao seu amigo policial que não procure meu assassino. — Ela fechou os olhos com força e juntou as mãos. — Ah, por favor, não deixe ninguém abrir as bocas! Esse crime nunca deve ser solucionado. Promete que vai dizer isso ao seu amigo policial e que vai fazê-lo concordar? Se o senhor dá valor à justiça, por favor, faça o que estou pedindo.
Ela correu até a porta. Poirot se levantou para segui-la, mas, ao notar a distância que ela havia percorrido no tempo que ele levou para se levantar, voltou a se sentar com um suspiro pesado. Era inútil. Jennie tinha ido embora, noite adentro. Ele nunca a alcançaria.
A porta da cozinha se abriu, e Cabelo Esvoaçante apareceu com o jantar. O aroma embrulhou seu estômago; Poirot tinha perdido completamente o apetite. — Onde está Jennie? — perguntou Cabelo Esvoaçante, como se de alguma maneira ele fosse responsável pelo desaparecimento da mulher. De fato, ele se sentia responsável. Se tivesse agido mais rápido, se tivesse escolhido as palavras com mais cautela... — É o cúmulo!
— Cabelo Esvoaçante largou a refeição de Poirot com força na mesa e voltou para a cozinha. Em seguida, escancarou a porta e gritou: — Aquela Jennie foi embora sem pagar.
— Mas pelo que ela deveria ter pagado? — murmurou Hercule Poirot para si mesmo.

*
No minuto seguinte, depois de uma breve e malsucedida tentativa de se animar com seu prato de filé com suflê de aletria, Poirot bateu à porta da cozinha do Pleasant’s. Cabelo Esvoaçante abriu uma fresta, para que nada ficasse visível para além de sua forma esguia no batente.
— Algo errado com seu jantar, senhor?
— Por favor, permita-me pagar pelo chá que Mademoiselle Jennie abandonou — ofereceu Poirot. — Em troca, a senhorita faria a gentileza de responder uma ou duas perguntas?
— Então o senhor conhece Jennie? Nunca vi os senhores juntos antes.
— Non. Eu não a conheço. Por isso quero fazer algumas perguntas.
— Por que então foi se sentar com ela?
— Ela estava com medo e muito aflita. Fiquei incomodado. Achei que talvez pudesse oferecer ajuda.
— Gente como Jennie não pode ser ajudada — disse Cabelo Esvoaçante. — Certo, vou responder suas perguntas, mas antes quero perguntar uma coisa: onde o senhor era policial?
Poirot não comentou que ela já havia feito três perguntas. Essa era a quarta.
A garçonete o observava com os olhos bem apertados.
— Em um lugar onde se fala francês, mas não a França, certo? — quis saber. — Já reparei na cara que o senhor faz quando as meninas daqui dizem “o senhor francês”.
Poirot sorriu. Talvez não fizesse mal à garçonete saber seu nome.
— Meu nome é Hercule Poirot, Mademoiselle. Da Bélgica. É um prazer conhecê-la. — E estendeu a mão.
Cabelo Esvoaçante apertou a mão dele.
— Fee Spring. Euphemia, na verdade, mas todo mundo me chama de Fee. Se me chamassem pelo nome completo, ninguém conseguiria terminar a frase, não é? Não que eu fosse me importar muito.
— A senhorita sabe o nome completo de Mademoiselle Jennie?Fee assentiu na direção da mesa de Poirot, de onde ainda saía o vapor do prato intocado.
— Coma. Vou sair já, já. — E se afastou de repente, fechando a porta no rosto dele.
Poirot voltou à sua mesa. Talvez ele seguisse o conselho de Fee Spring e fizesse outra tentativa de comer o filé. Que estimulante falar com alguém atento a detalhes. Hercule Poirot não encontrava muitas pessoas assim.
Fee ressurgiu logo com uma xícara na mão, sem pires. Deu um gole ao sentar na cadeira que Jennie havia deixado vaga. Poirot conseguiu não estremecer diante do som.
— Não sei muito sobre Jennie —  começou ela. — Só o que notei das coisas estranhas que ela já disse. Ela trabalha para uma senhora, dona de um casarão. E mora lá. Por isso vem aqui com tanta frequência, para pegar o café e os bolos de sua senhoria, para os jantares, as festas chiques e coisas assim. Ela comentou uma vez que vem do outro lado da cidade. Muitos clientes regulares vêm de longe. Jennie sempre fica para tomar algo. “O de sempre, por favor”, ela diz ao chegar, como se fosse a patroa. E faz uma voz fingindo ser importante, acho. Não é a voz que nasceu com ela. Deve ser por isso que não fala muito, porque sabe que não conseguiria mantê-la por muito tempo.
— Perdoe-me — interrompeu Poirot —, mas como sabe que  Mademoiselle Jennie nem sempre falou assim?
— O senhor já ouviu uma conversa informal tão correta assim? Eu nunca ouvi.
— Oui, mais... Então é apenas especulação?
Fee Spring admitiu com relutância que não tinha certeza. Desde que a conhecera, Jennie sempre falou como “uma verdadeira dama”.
— De uma coisa eu sei a favor de Jennie: é uma garota do chá, então pelo menos tem um pouco de bom senso.
— Uma garota do chá?— Isso mesmo. — Fee cheirou a xícara de café de Poirot. — Todos vocês que bebem café quando poderiam beber chá precisam ir ao médico, se quiser a minha opinião.
— A senhorita não sabe o nome da mulher para quem Jennie trabalha, ou o endereço da casa? — perguntou Poirot.
— Não. Também não sei o sobrenome dela. Sei que ela sofreu uma terrível decepção amorosa muitos anos atrás. Ela comentou uma vez.
— Decepção amorosa? Ela disse de que tipo?
— Só existe um — respondeu Fee, resoluta. — Do tipo que parte o coração.
— O que quis dizer foi que existem muitos  motivos para uma decepção amorosa: o amor não correspondido, a perda trágica de alguém amado na juventude...
— Ah, eu nunca soube da história — disse Fee, com um toque de amargura na voz. — Nem vou saber. Duas palavras, “coração partido”, foi tudo o que ela disse. Sabe, Jennie é assim, ela não fala. O senhor não poderia ajudá-la mesmo que ela ainda estivesse sentada nesta cadeira, assim como não pode ajudá-la agora que ela foi embora. Ela é totalmente fechada em si mesma, esse é o problema dela. Gostar de chafurdar nisso, no que quer que seja.
Fechada em si mesma... As palavras ativaram a memória de Poirot: uma noite de quinta-feira muitas semanas atrás, e Fee falando de uma cliente.
Ele disse:
— Ela não faz perguntas, n’est-ce pas? Não está interessada em bater papo. Não quer saber o que tem acontecido na vida dos outros.
— Exatamente! — Fee parecia impressionada. — Não há nem um pingo de curiosidade nela. Nunca conheci alguém tão autocentrado. Que simplesmente não vê o mundo nem nós, que estamos nele. Ela nunca pergunta como você está, ou que tem feito. — Fee inclinou a cabeça para o lado. — O senhor pega as coisas rápido, não é?
— Sei o que sei apenas por ouvi-la conversar com as outras garçonetes, Mademoiselle.
O rosto de Fee ficou vermelho.
— Estou surpresa que o senhor tenha se dado ao trabalho de ouvir.
Como não desejava constrangê-la mais, Poirot não comentou que esperava ansiosamente as descrições dela dos indivíduos que ele passara a chamar coletivamente de “Personagens do Café” — o sr. Não Exatamente, por exemplo, que toda vez fazia um pedido e então o cancelava no minuto seguinte, pois havia decidido que não era exatamente o que queria.
Aquele não era o momento apropriado para perguntar se Fee tinha um apelido desse tipo para Hercule Poirot, usado em sua ausência — fazendo talvez uma menção ao distinto bigode.
— Então Mademoiselle Jennie não gosta de saber da vida dos outros — recapitulou Poirot, pensativo —, mas, ao contrário de tantas pessoas que não têm interesse na vida e nas ideias dos que estão à sua volta e só falam de si mesmas sem parar, ela também não faz isso, correto?
Fee levantou as sobrancelhas.
— Bela memória, a do senhor. Está certo de novo. Não, Jennie não é do tipo que fala de si mesma. Ela responde perguntas, mas não se demora. Não quer ficar muito tempo longe do que está em sua cabeça, seja lá o que for. Seu tesouro particular... Só que isso não a faz feliz, o que quer que esteja remoendo. Há tempos desisti de tentar entender.
— Ela fica remoendo o coração partido — murmurou Poirot. — E o perigo.
— Ela disse que estava em perigo?
— Oui, Mademoiselle. Lamento não ter sido rápido o bastante para impedi-la de sair. Se alguma coisa lhe acontecer... — Poirot balançou a cabeça e desejou poder recuperar a sensação de tranquilidade que sentia quando chegara. Ele deu um tapa na mesa quando tomou sua decisão. — Vou voltar aqui demain matin. Você disse que ela vem sempre aqui, n’est-ce pas? Vou encontrá-la antes do perigo. Dessa vez, Hercule Poirot, ele vai ser mais rápido!
— Rápido ou devagar, não importa — disse Fee. — Ninguém consegue encontrar Jennie, mesmo que ela esteja diante do seu nariz, e ninguém pode ajudá-la. — Ela se levantou e recolheu o prato de Poirot. — Não faz sentido deixar um belo prato esfriar por conta disso.