sábado, 27 de junho de 2015

CRIMES & CULINARIA - Um Brinde de Cianureto!



Uma bela ópera e um doce de peras delicioso - e, por favor, 

sem gotas de cianureto! 




Poires Hélène, sobremesa tradicional de pera.


Quando se fala do livro Um Brinde de Cianureto em um artigo de temática culinária, imediatamente se pensa em drinques e bebidas. É certo que há na estória escrita por Agatha Christie toda uma investigação girando em torno do champanhe e do vinho servidos à mesa pouco antes dos assassinatos. Além disso, mais de uma vez há uma menção ao hábito que tinha George Barton de tomar um Porto antes de dormir.


Kemp — Agora, quanto à noite passada. Fale-me tudo sobre o
champanha.
Garçom Giuseppe — Era Cliquot 1928 — um vinho muito bom e caro. (trecho de Um Brinde de Cianureto)


Porém, o que pode até passar despercebido a alguns leitores mais apressados é que ambos os crimes ocorreram durante o jantar em um restaurante de alta classe em Londres. Mas não se tratava de um jantar qualquer.

Com um cardápio sofisticado, recheado de iguarias, as bebidas funcionavam apenas como pano de fundo para o jantar refinado, mesmo levando-se em consideração as dificuldades em consequência da guerra. Até os dias de hoje, pratos como ostras e consomê e patês e molhos feitos a base de fígado de aves, permanecem no roll dos pratos elegantes.


— O menu, para Mr. Barton.
Veio o cardápio. Ostras, Consomê, Linguado à Luxembourg,
Galo Silvestre, Poires Hélène, Fígado de Galinha com Bacon(trecho de Um Brinde de Cianureto)


Diante dessa sofisticada variedade do menu, eu resolvi aqui, pela primeira vez, me dedicar a uma sobremesa: a deliciosa Poires Hélèneou Peras Helena.




HELENE: 

AQUELA  DO  DOCE  

X

AQUELA  DA  OPERETA



Cartaz de encenação de La Belle Hélène


Geralmente vê-se uma confusão com o nome do prato: em alguns cardápios a sobremesa aparece com o nome de Poires Belle Hélène.

Na verdade, La Belle Helene é o nome da opereta de Offenbach – Jacques Offenbach, compositor e violoncelista, nascido em Colônia, Alemanha, em 1819.  

A opereta de Offenbach, por sua vez, inspirou o nome da sobremesa, que teria sido criada pelo confeiteiro Auguste Escoffier em 1864, e batizada de Poires Hélène em homenagem à personagem da ópera.




VAMOS  À  RECEITA!






Compota de pera (para 6 porções)

900g de peras
150g de açúcar cristal
suco de limão
600 ml de água

Descasque e corte pela metade as peras, removendo o meio (a parte dos caroços). Coloque a água, o açúcar e o suco de limão para ferver. Após, despeje metades das peras, ferva novamente e deixe cozinhar por cerca de 5 minutos até ficarem macias.


Gelado de baunilha

4 gemas grandes
2 colheres de chá de mistura de pudim de baunilha
50 g de açúcar
270 g de creme de leite fresco
250 g de creme de leite
1 colher de chá de extrato de baunilha

Esquente o creme de leite em uma panela pequena, tomando cuidado para que ele não começa a ferver. Enquanto isso, misture as gemas, o extrato de baunilha, a mistura de pudim de baunilha e o açúcar em uma tigela até ficar homogêneo.

Em seguida, despeje o creme quente e continue mexendo. Agora despeje de volta na panela e deixe em fogo médio, mexendo sempre até engrossar e quase ferver.

Coloque a mistura em uma vasilha apoiada em água com gelo, e agite ocasionalmente até que a mistura tenha esfriado completamente. Agora misture o creme de leite fresco e depois coloque tudo isso na geladeira.


Calda de chocolate

1 / 4 l de creme de leite
150g de chocolate (min 70% de teor de cacau)
100g de chocolate ao leite

Esquente o creme de leite, quebre o chocolate em pedaços pequenos e misture até dissolver completamente. Esquente novamente.


Montagem






Coloque a pera em uma tigela de sobremesa, sirva o sorvete no centro e regue com o molho de chocolate quente. Um pouco de chantili não fará mal algum! Você pode decorar com amêndoas e sirva imediatamente!


sábado, 13 de junho de 2015

PERSONAGENS que também AMAMOS - O AMOR de TOMMY & TUPPENCE


COMO  NASCEU  O  AMOR  DOS   ÚNICOS  DETETIVES   CASADOS  – E APAIXONADOS – DE  AGATHA  CHISTIE




Especial:  DIA dos NAMORADOS



Francesca Annis como Tuppence e James Warwick como Tommy


Eu simplesmente adoro Tommy e Tuppence! As estórias são leves, despretensiosas, repletas de aventuras – e de romance! Elas estão recheadas de sutis declarações de amor de um pelo outro, daqueles breves momentos de cumplicidade e admiração mútua que somente os casais que se amam de verdade podem compartilhar.


Tommy e Tuppence são os únicos detetives criados por Agatha Christie que são casados, e, ainda por cima, trabalham juntos. Os leitores vão acompanhando o desenrolar de suas vidas, o amadurecimento, os filhos e novas responsabilidades, todavia, ainda muito apaixonados um pelo outro tanto quanto pela aventura e pelo mistério. E tudo em apenas 5 romances e uma coleção de contos: O Inimigo Secreto; N ou M?; Um Pressentimento Funesto; Portal do Destino; Sócios no Crime.


No artigo Tommy e Tuppence: opostos que se atraem (http://agathachristieobraeautora.blogspot.com.br/2013/07/last-but-not-least-os-outros-que-tambem.html ), apontei para diferença na personalidade dos dois: ela, dinâmica e ousada, ele, racional e prudente, mas que, justamente por isso, se complementam e formam um par romântico adorável.


Mas eles não começam sua estória já casados: primeiro se reencontram, passam um tempo juntos, se apaixonam e decidem se casar. Sendo assim, como tudo começou?




COMO   SE   CONHECERAM   E  SE  APAIXONARAM 



Jessica Raine como Tuppence e David Walliams como Tommy


Tommy e Tuppence haviam se conhecido quando criança, mas perderam o contato completamente durante o conflito mundial. A jovem Prudence Cowley, conhecida como Tuppence, abandonou os encantos (e o lufa-lufa) da vida doméstica no começo da guerra e veio para Londres, onde se empregou num hospital para oficiais, como ela mesma relata em O Inimigo Secreto. Já o jovem Thomas Baresford, ou Tommy, seguia a carreira militar como tenente, tendo viajado para a França, para a Mesopotâmia e para o Egito, até ser dispensado.


Um belo dia, pouco depois do fim da 1ª guerra mundial, na estação do metrô na Dover Street, Tuppence dá de cara com seu velho amigo Tommy:


-Tommy!
-Tuppence!
Os dois jovens cumprimentaram-se com efusão e, por instantes, interromperam o trânsito à saída da estação de Dover Street.
-Há séculos que não a vejo - prosseguiu o rapaz.


Era uma época difícil, como sempre é após o fim de uma guerra, e os empregos estavam difíceis, como nos conta o próprio Tommy:


E durante dez longos e fatigantes meses tenho andado à cata de emprego! Não há empregos de espécie alguma! E mesmo que houvesse não seriam para mim. Que valho eu? Que entendo eu de negócios? Nada!


Para Tuppence, as coisas também não estavam fáceis depois do da guerra:


Já resisti o mais que pude. Bati a muitas portas. Respondi a anúncios. Tentei toda a sorte de expedientes. Poupei, economizei, comprimi. De nada valeu. Vou regressar à casa do meu pai.


Ela tem então a ideia de juntos fundarem uma firma de investigações, ou algo parecido, denominada Jovens Aventureiros Ltda. O inusitado anúncio de seu novo negócio dizia:


Prontos para fazer qualquer coisa. Ir a qualquer lugar. Nenhuma oferta razoável será recusada.


Os dois acabam se envolvendo em uma perigosa e misteriosa trama de espionagem, correndo riscos juntos e tudo o mais.




CASAMENTO:   UM   DIVERTIMENTO  ESPANTOSAMENTE   BOM!



Sarah Punshon como Tuppence e Johann Hari como Tommy


Começam como bons amigos que, embora com personalidades bem distintas, possuem interesses em comum. E, o melhor: bons amigos que muito se admiram mutuamente. Então, é claro que se apaixonam!


Querida! - Exclamou Tommy, apertando-a nos braços. (...) Você não pode deixar de casar comigo.


O casamento foi só uma questão de tempo. E até sobre esse assunto, Agatha nos brinda com certo humor e leveza através do diálogo entre Tuppence e Tommy:


(Tuppence) - Dão ao casamento toda a sorte de denominações: um abrigo, um refúgio, uma coroa de glória, um estado de servidão e inúmeras outras. Mas sabe o que penso que seja o casamento ?
- O quê?
- Que é um divertimento!
- E um divertimento espantosamente bom! disse Tommy





E  VIVERAM  FELIZES  E  SE  DIVERTINDO  PARA  SEMPRE!



Jessica Raine como Tuppence e David Walliams como Tommy


As aventuras de Tommy e Tuppence não se destinam apenas aos leitores que buscam pura e simplesmente estórias de mistério e investigação. São para aqueles leitores que, além das estórias de mistério, também nutrem o gosto pelas estórias divertidas e com uma pitada de romance.



Afinal, bem que se pode afirmar que Tommy e Tuppence  se casaram e viveram felizes para sempre – como deve ser ao final de toda estória essencialmente romântica. 




quinta-feira, 4 de junho de 2015

Método Christie - Da SALA TRANCADA rumo à GRANDE REVELAÇÃO FINAL


Dois recursos cênicos que se tornaram grandes marcas dos livros de Agatha Christie



Cena do episódio "Cartas na Mesa" da série britânica Poirot


NÃO CONTÉM ENDING SPOILER!! Fique tranquilo.


Agatha Christie, sem sombras de dúvidas, possuía uma grande veia teatral. Seu talento para compor personagens, escrever diálogos e construir um cenário inteiro usando apenas as palavras era notável! A despeito de, neste último caso, ela ter confessado na Autobiografia como achava cansativas as descrições.

Em vista disso, não é de se surpreender que Agatha Christie tenha aplicado com muita eficiência dois tradicionais recursos cênicos em seus livros: o recurso de um cenário: Cenário da Sala Trancada; e o recurso de uma cena: a Cena da Grande Revelação Final.

Usando e abusando deles com toda a maestria, a escritora os adaptou para suas estórias de modo a criar um clima ainda maior de suspense e mistério, através do qual nos conquistou a todos.




O  CENÁRIO  DA  SALA  TRANCADA:


CONFINAMENTO   &   SUSPENSE




Cena do episódio "A extravagância do morto" do seriado britânico Poirot


Também conhecido como o cenário da Comunidade Fechada, o cenário da Sala Trancada consiste naquelas situações em que um determinado número de pessoas se vê confinada em um determinado local, a princípio, de área determinada. O local pode ser um trem, um avião, ou a mais comum: uma mansão no interior, distante do centro urbano.

Geralmente, a quantidade de indivíduos é limitada, da mesma forma que o confinamento no local tem caráter impositivo. Ou seja, alguma coisa acontece de modo que fica difícil ou às vezes impossível para que novas pessoas se juntem ao grupo ou para que algum elemento do grupo fuja ou escape. Muitas vezes, é uma autoridade policial impõe tal confinamento ou circunstâncias metrológicas, como uma nevasca, ou ainda o fato de o local ser uma ilha de difícil acesso que impõem o confinamento.

Através do recurso do Cenário da Sala Trancada, Agatha Christie alcança alguns pontos importantes na elaboração de uma trama de estória de mistério e investigação, realçando alguns elementos vitais para o enredo e para todo o clima de suspense.

Em primeiro lugar, a quantidade de suspeitos torna-se limitada, de modo que surge a possibilidade de se elaborar a trama, criando um enredo mais complexo o qual, mesmo assim, pode deixar todas as pontas amarradas no final.

Em segundo lugar, da mesma forma com o que ocorre com o enredo, os personagens podem ser mais bem trabalhados, assim como suas falas e relações dentro da trama.

Em terceiro lugar, o leitor tem a chance de brincar ele próprio de detetive, o que contribuiu e muito para o sucesso da escritora.




A CENA FINAL  DA  GRANDE REVELAÇÃO:


IMPACTANTE   &   ALIVIADORA



Cena do filme Assassinato no Expresso do Oriente


Então, quando nós, simples leitores, já estamos tontos em meio a tantas pistas, verdadeiras e falsas, e a tantos suspeitos e acontecimentos, Hercule Poirot reúne todos os envolvidos em uma sala, e, com ordem e método, vai compartilhando com os ouvintes preocupados e espantados o desenrolar de seus pensamentos, do processo de sua investigação e de suas deduções, até que, quando já estamos aflitos e insuportavelmente ansiosos, por último e nem um minuto antes disso, ele finalmente nos revela quem é o criminoso!

Impactante e repleta de expectativas por parte do leitor, a Cena da Grande Revelação Final, também conhecida pelo termo literário em francês Dénouement Final, funciona como uma catarse, ou seja, como o alivio satisfatória final após um longo e tortuoso processo quase sofrível de suspeitas e investigações e muitas emoções. 

Não se trata de uma exclusividade das estórias de Poirot. Em outras estórias, como as com Miss Marple, Agatha Christie também cria uma cena final semelhante, com a presença de todos os envolvidos na trama, onde a grande revelação enfim será feita.

Através do recurso  da Cena da Grande Revelação Final, Agatha Christie eleva a níveis exponenciais o clima de suspense nas estórias. Além disso, ela envolve os leitores no jogo de investigação, pois eles sabem que possuem um prazo determinado para desvendar o mistério: até antes do Final Dénouement quando toda a verdade surgirá. E nunca antes, como o leitor pode estar seguro.



* * * * * * * * * * *



CONCLUSÃO: 


UMA  TRAJETÓRIA  LONGA E TORTUOSA ...


MAS  SIMPLESMENTE  A  ADORAMOS!



Cena do episódio "Mistério no Caribe" do seriado britânico Marple


A trajetória de uma estória de mistério e investigação de Agatha Christie segue, portanto, um percurso determinado: ele se inicia na sala trancada, pouco antes do crime ser cometido, e segue por um caminho tortuoso de investigações, pistas falsas, surpresas e enganos em direção à grande revelação final, após do que, finalmente, todas as portas daquela sala imaginária serão abertas para a luz da verdade dos fatos entrar.


Pronto! Estamos preparados para o próximo livro.