sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Poirot: Bigodes & Bengala - O ESTÔMAGO DE POIROT



 
Comer: algo tão humano, natural e simples. Ah, mas não – é claro! – para Hercule Poirot!







Quando a hora do repouso chega, (...) o financista aposentado dedica-se ao golfe; o pequeno comerciante planta bulbos em seu jardim; eu, eu como.
(Hercule Poirot em A Morte da Senhora McGynty)


Comer, para o peculiar detetive belga criado por Agatha Christie, está muito além de uma simples necessidade fisiológica cotidiana: para ele, comer é um ritual. E, como em todo ritual que se preze, este está recheados de regras a serem cumpridas, de passos a serem seguidos, de detalhes a serem observados.


 
David Suchet como Hercule Poirot



Do formato das torradas ao tamanho dos ovos – que devem ser perfeitamente iguais, da consistência do chocolate quente à intensidade do café, do preparo da carne ao sabor das salsichas, da quantidade à hora certa de se comer cada coisa: Poirot imprime com sua personalidade no ato de se alimentar.







Neste artigo, selecionei alguns trechos nos quais Poirot revela suas manias e excentricidades para fazer suas refeições, o que acaba resultando em passagens por vezes cômicas ou divertidas. 

Então, prenda seu guardanapo na gola da camisa e cubra bem o peito, sem se importar com os costumes locais, pois nenhuma migalhinha sequer pode cair sobre sua roupa, e deguste desta passagens icônicas.

Afinal, sendo ele o dono de fabulosas células cinzentas, o estômago de Poirot não poderia ser também um órgão comum e igual aos dos pobres mortais!




ORDEM  E  MÉTODO  TAMBÉM  PARA COMER



 
David Suchet como Hercule Poirot



[Cap. Hastings]

Poirot tinha uma particular rotina quando abria sua correspondência. Pegava uma carta de cada vez, observava-a em todos os seus detalhes, e depois a abria com a espátula. O conteúdo era lido com atenção e. em seguida, colocado em uma das quatro pilhas atrás do bule de chocolate (ele sempre tomava chocolate pela manhã, o que era abominável).

(Poirot Perde uma Cliente)



[Poirot]

Uma pessoa só pode comer três vezes por dia. E os intervalos são os hiatos. 

(A Morte da Senhora McGynty)



 [Srª Oliver]

— O melhor é vir me contar tudo. Quando pode ser? Venha tomar chá hoje de tarde.

— Eu não tomo chá à tarde.

— Então, café.

— Não é a hora do dia em que costumo tomar café.

(A Terceira Moça)




O  FAMOSO  CASO  DA  TORRADA ASSIMÉTRICA







[Cap. Hastings]

De súbito, empertigou-se e apontou dramaticamente um dedo ao prato das torradas.

– Ah, par exemple, c’est trop fort!

– É demasiado forte o quê?

– Esta torrada. Não vê?  Tirou, lesto, a transgressora do  prato e a estendeu para que a examinasse.

– É quadrada? Não. É triangular? Também não. É sequer redonda? Tão pouco. Tem uma forma remotamente agradável ao olhar? Que simetria temos aqui? Nenhuma!

– Foi cortada de um pão caseiro, Poirot –,  expliquei em tom brando, tentando acalmá-lo. Mas Poirot lançou-me um olhar gelado.

– Que inteligência a do meu amigo Hastings! –  exclamou,  sarcástico. – Não compreende que proibi semelhante pão, um  pão feito à toa, informe, que nenhum padeiro deveria permitir-se fazer!
(Assassinato no Campo de Golfe)






LE DINER – A REFEIÇÃO PREDILETA



 
David Suchet como Hercule Poirot



[Poirot]

Chocolate com croissants de manhã cedo, déjeuner ao meio-dia — se possível —mas certamente nunca depois de uma hora da tarde, e finalmente, o clímax: Le diner!

(A Morte da Senhora McGynty)



[Poirot]

E o jantar, é preciso que se lembrem, é a refeição suprema do dia!

 (A Morte da Senhora McGynty)





LES ANGLAIS, LES ANGLAIS...




David Suchet como Hercule Poirot e Philip Jacksoncomo Inspetor Japp



[Poirot]

Gostaria de tomar uma xícara de chocolate bem grosso neste momento, mas na Inglaterra não sabem fazer um bom chocolate.

(A Casa Do Penhasco)



[Poirot]

Ai de mim! — murmurou Poirot com seus bigodes — é uma pena que uma pessoa só possa comer três vezes ao dia... — Pois o chá da tarde era uma refeição à qual ele nunca se habituara. — Se tomarmos o chá das cinco —, explicava ele, — não chegaremos à hora do jantar com a quantidade adequada de sucos gástricos.

(A Morte da Senhora McGynty)




[Cap. Hastings]

Passaram-se quase cinco minutos até a volta de Poirot. Com sua

usual precaução contra doenças, estava coberto até as orelhas. Sentou-se ao meu lado e tomou um lento e gostoso gole de café.

— Só na Inglaterra o café é tão horroroso — comentou. — No continente sabem apreciar sua importância na digestão e o preparam como é devido.

(Os Quatro Grandes)



A chaleira estava no fogo, e, a seu lado, havia uma pequena panela esmaltada, contendo um pouco de chocolate, espesso e doce, que agradava mais ao paladar de Poirot do que a coisa que ele descrevia como "o veneno inglês".

(O Desaparecimento do Sr Davenheim)





CHOCOLATE: QUE SEJA MUITO, MUITO DOCE!



David Suchet como Hercule Poirot



Hercule Poirot gostava de coisas doces. Estava sentado à mesa do café, tendo à sua frente uma xícara de chocolate fumegante, à qual um brioche fazia boa companhia.

(A Terceira Moça)



 [Hastings]

Do lado de Poirot, havia uma xícara com uma mistura espessa e forte de chocolate, que eu não beberia nem que me dessem cem libras. Poirot pegou a xícara de porcelana rosa e tomou um gole da beberagem, suspirando, contente.

- Quelle belle vie! - murmurou ele.

(A Caixa De Bombons)



[Cap. Hastings]

Não pude furtar-me a engolir uma chávena do seu enjoativo chocolate.

- Restabelece os nervos, compreende? - explicou Poirot. Bebi para mostrar-lhe que aceitava o argumento.

(Cai o Pano)




Às 4h15m daquela tarde, Poirot estava sentado na sala de visitas da Sra. Oliver, tomando com prazer uma xícara de chocolate, generosamente encimada por uma coroa de creme chantilly, que a dona da casa colocara à sua frente, juntamente com um pratinho cheio de biscoitos língua de gato.

(A Terceira Moça)





COMER: OBJETO DE PESQUISA INTELECTUAL



 
David Suchet como Hercule Poirot



Sempre fora um homem que levava o estômago muito a sério.

(A Morte da Senhora McGynty)



Poirot mastigava com ar de aprovação: o brioche era o resultado de uma busca que o levara a quatro padarias. Este era de uma patisserie dinamarquesa; apesar disso, infinitamente superior ao de outro estabelecimento, que se intitulava francês e não passava de uma impostora. Ele estava gastronomicamente satisfeito, com o estômago em paz. Também o cérebro estava em paz, talvez um pouco mais do que convinha.

(A Terceira Moça)



O Vieille Grand'mère fora o resultado de uma destas pesquisas, e agora acabara de receber a chancela de aprovação gastronômica de Hercule Poirot.

(A Morte da Senhora McGynty)





NADA DE MODERNIDADES!


 
David Suchet como Hercule Poirot



[Srª Oliver]

—Se preferir esse café sem cafeína que

apareceu agora, posso tentar conseguir...

Ah, ça non, par example! É detestável!

— Então, um refresco, daqueles que o senhor gosta tanto.

Acho que ainda tenho meia garrafa de Ribena.

— O que é Ribena?

— Sabor de groselha.

— É mesmo impossível resistir-lhe, madame! A senhora

realmente não aceita recusas, e sou-lhe grato pela amabilidade. Aceito, então, tomar uma xícara de chocolate hoje à tarde.

(A Terceira Moça)





CHÁ É BOM, MELHOR AINDA SE FOR O TISANE




David Suchet como Hercule Poirot



Ele agora estava sentado na cama, apoiado em travesseiros, com a cabeça envolta por um xale de lã, tomando lentamente uma tisane particularmente insalubre, que eu preparara de acordo com suas instruções meticulosas.

(O Mistério de Hunter’s Lodge)



[Poirot]

 Agora podemos dormir em paz. E bem que estou precisando de algum sono! Minha cabeça está doendo terrivelmente. Ah, o quanto eu não daria agora por uma boa tisane!

(A Aventura da Tumba Egípcia )



[Srª Oliver]

— Chocolate? Com creme chantilly por cima? Ou um chá de ervas? O senhor adora um chazinho de ervas.

(A Terceira Moça)




POIROT OFERECE UM JANTAR



David Suchet como Hercule Poirot


— Afinal de contas, até que é possível comer bem na Inglaterra — murmurou Fournier com admiração, enquanto usava delicadamente um palito colocado providencialmente à mão.

— Um jantar delicioso, M. Poirot — declarou Thibault.

— Meio afrancesado, mas bom mesmo — sentenciou Japp.

— Uma refeição deve ficar sempre leve no estomac — disse Poirot. — E não ser pesada a ponto de paralisar o raciocínio.

(Morte nas Nuvens)






UM ESTÔMAGO SOFISTICADO



 
David Suchet  como Hercule Poirot


— Venha, mon vieux — disse. — O estômago reclama. Uma refeição simples, mas satisfatória, é o que recomendo. Digamos omelette aux champignons, sole à la Normande — um queijo de Port Salut, e vinho tinto para acompanhar. Que vinho, exatamente?

(Morte nas Nuvens)






PENA QUE O CÉREBRO TENHA QUE SER ESCRAVO DO ESTÔMAGO!”



Peter Ustinov como Hercule Poirot


— Que tem M. Poirot a declarar em sua defesa? — disse Japp. —Poirot sacudiu tristemente a cabeça.

Mon estomac — respondeu, patético. — Pena que o cérebro tenha que ser escravo do estômago.

— Eu também — concordou Fournier, solidário. — Não me sinto bem no ar. Fechou os olhos e sacudiu eloquentemente a cabeça.

(Morte nas Nuvens)





QUANDO POIROT SE TORNA “UM SIMPLES MEMBRO DA RAÇA HUMANA”



— Dizem que um exército avança segundo seu estômago — disse Poirot. — Mas até que ponto as delicadas circunvoluções do cérebro são influenciadas pelo aparelho digestivo? Quando me vejo atacado pelo mal de mer, eu, Hercule Poirot, sou uma criatura sem massa cinzenta, sem ordem, nem método... um simples membro da raça humana um pouco abaixo da inteligência média! É deplorável, mas que se há de fazer?

(Morte nas Nuvens)




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